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Archive for the ‘Cristine Martin’ Category

Amizade… pode vir em várias formas e sabores. Há a amizade de infância, aquela menininha da casa ao lado, ou a priminha quase da mesma idade, ou a filha da amiga da mãe. De qualquer forma, mesmo sem conhecê-la direito, ela está sempre por perto, é convidada a todas as festinhas de aniversário, e com o passar dos anos pode ou não continuar sendo amiga. Quando crescem e descobrem quem são e do que gostam, as amigas de infância podem se aproximar ainda mais ou perceber que nada tinham em comum além da proximidade.

Há a amiga de escola… aquela menina tímida como você, que aos poucos vai sentando do seu lado na hora do lanche e que faz dupla nos trabalhos de escola com você, com quem conversa todos os dias e vai aos poucos descobrindo gostos em comum. Ela é a primeira amiga que você escolhe, e sua companheira na solidão das crianças que não são populares. Aliás, praticamente todo mundo que conheço NÃO era popular na escola; onde foram parar aquelas crianças que todo mundo invejava e secretamente detestava?

Há outra categoria de amigos da escola: a turminha do colegial (ops, ensino médio) e da faculdade, com destaque para a melhor amiga. São os amigos que saem em grupo, fazem tudo juntos, e podem seguir caminhos diferentes quando vão para a faculdade, quando a terminam ou quando começam a trabalhar e os encontros da turma ficam mais esparsos.

Aí você casa, tem filhos e entra em cena outro tipo de amigos: os amigos do casal e as amigas “vizinhas-com-filhos-da-mesma-idade” ou “mães-dos-amiguinhos-dos-filhos”. Os interesses são aqueles em comum, mas algumas dessas amizades podem ser profundas e durar muito tempo.

Todos esses amigos eram presenciais; também havia o amigo por correspondência, ou pen-pal, que esteve em voga nas décadas de 70 e 80; você se cadastrava, informava seus gostos, atividades preferidas e recebia endereços de jovens da mesma idade em outros países com quem podia se corresponder. Era gostoso treinar o inglês, aguardar a chegada da cartinha vinda de longe, mandar e receber fotos, adesivos, pequenos mimos que coubessem num envelope.

Aí vieram o computador pessoal e o e-mail; as mensagens chegavam bem mais rápido, mas sem o charme das cartinhas. E há alguns anos, a internet e as redes sociais trouxeram um novo tipo de amizade: a “virtual”.

Twitter, Orkut, Facebook, Flickr, MSN e muitas outras redes sociais, além dos blogs e fóruns, permitiram que conhecêssemos pessoas de todos os lugares, com os mais diversos interesses. Era inevitável que novas amizades surgissem, o que é muito bom.

Muitas pessoas ainda fazem distinção entre amizades iniciadas “ao vivo e a cores” e aquelas que começaram pela internet. Mas a amizade é feita de pessoas, e a tecnologia que as aproxima é só o meio. Seja um banco de escola, uma carta, e-mail ou bate-papo no twitter, se aquela pessoa não tiver algo em comum conosco, se nossas almas não clicarem em sintonia, não haverá amizade.

Fiz muitos amigos pela internet; há poucos ‘chegados’ como os antigos amigos “presenciais”, e estes fazem parte da minha vida pessoal, dividem emoções; muitos compartilham ideias, interesses em comum, causas, carinho e solidariedade, e também há aqueles que dividem simpatia, informações, bons-dias e abraços, mas dali não passam. E isso também faz parte da vida, e é saudável.

Conforme vamos crescendo e amadurecendo, pessoas saem e entram em nossas vidas; mudamos, e nosso mundo também muda. Aos poucos vamos selecionando o que queremos e quem queremos por perto. Conhecemos muita gente, mas poucos continuam junto de nós em nossa caminhada. Os que sobrevivem ao teste do tempo e das dificuldades, podem ser chamados de amigos. Sejam presenciais ou virtuais.

Este texto é dedicado aos amigos que conheci (e que reencontrei) na internet, e especialmente ao amigo Paulo Afonso, aniversariante de hoje, Timoneiro do Alma Carioca e que comanda esta casa onde fomos muito bem recebidos e conhecemos muitos amigos de verdade.

Parabéns, amigo Paulo!

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Odeio rodeio! Saiba por quê!

Hoje os twiteiros estão organizando o protesto contra os rodeios, pedindo que a partir das 19h, todos incluam a hashtag #odeiorodeio em seus tuítes, para que o assunto vá para os TT (trending topics) e chame a atenção de todos. Também vou participar, pois abomino esse espetáculo cruel e desnecessário. E já vou explicar por quê.

Há algumas centenas de anos os pioneiros que desbravaram o velho oeste americano e o cerrado brasileiro, entre outros locais, precisaram domar animais selvagens para a formação de seus rebanhos, pois os animais eram necessários para tração e alimento. Os homens se especializaram em técnicas de laço e dominação do animal, como parte de seu trabalho.

Depois de algumas décadas quase não havia mais animais selvagens, e os peões/cowboys não precisavam mais dessas técnicas, mas a vaidade humana quer ganhar admiração, e eventos de competição começaram a ser organizados, e essas pessoas exibiam suas técnicas para ganhar aplauso e prêmios.

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Mas como o ser humano tem alguma crueldade inata (alguns, mais do que outros), e shows geram dinheiro, que gera cobiça, esses espetáculos viraram um negócio milionário e esses peões hoje são profissionais que sabem usar o laço e maltratar os animais, mas que provavelmente não saberiam o que fazer se tivessem que domar um animal realmente selvagem, como seus antecessores de há alguns séculos.

Os pobres bichos são vítimas de crueldade gratuita, como pudemos ver esta semana no caso do bezerro que teve a coluna fraturada em uma prova e precisou ser sacrificado. Para quê isso? Além disso, eles tomam choques, são espetados, têm seus órgãos genitais apertados, sofrem quedas e fraturas e tudo isso sem nenhum motivo além da satisfação da vaidade e da cobiça humanas.

Outro efeito colateral dos rodeios é a poluição ambiental: durante a festa do peão de Barretos, por exemplo, a população aumenta demais durante os dias da festa, assim como o número de furtos e crimes e as toneladas de lixo produzidas. Também ocorrem mais acidentes nas estradas, provavelmente por causa do consumo excessivo de álcool e a imprudência dos motoristas com a euforia da festa (como aqueles babacas que saem acelerando na cidade depois de ver uma corrida de fórmula 1 na TV).

Quais as vantagens de uma festa dessas? Apenas no bolso dos organizadores, patrocinadores e artistas que faturam nos shows organizados junto com a festa.

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E um absurdo desses não deveria ser proibido? Os rodeios são regulamentados desde 2002, e há normas sobre os equipamentos e provas permitidos, de modo a proteger a integridade física do homem e do animal. Agora, leiam o trechinho abaixo (da lei), comparem com as descrições das provas que realmente ocorrem (vejam os links no final do artigo), e tirem suas conclusões:

“…IV- Arena das competições e bretes cercados com material resistente e com piso de areia ou outro material acolchoador, próprio para o amortecimento de impacrto de eventual queda do peão de boiadeiro ou de animal montado.

Art.4-Os apetrechos técnicos utilizados nas montarias, bem como as características do arreamento,não poderão causar injúrias ou ferimentos aos animais e devem obedecer às normas estabelecidas pela entidade representativa do rodeio, seguindo as regras internacionalmente aceitas.

1o.As cintas, cilhas e as barrigueiras deverão ser confeccionadas em lã natural com dimensões adequadas para garantir o conforto dos animais.

2°-Fica expressamente proibido o uso de esporas com rosetas pontiagudas ou qualquer outro instrumento que cause ferimentos nos animais,incluindo aparelhos que provoquem choques elétricos.

3°- As provas realizadas nas provas de laço deverão dispor de redutor de impacto para o animal…”

Felizmente o bom-senso ainda impera e em algumas cidades do Brasil os rodeios já são proibidos, por força de lei municipal ou ação civil. Se na sua cidade ainda há rodeios, mobilize-se! Com a pressão popular essa prática pode ser proibida.

A Festa do peão de Barretos de 2011 começou no dia 18 de agosto e vai até dia 28, e os organizadores esperam receber 950 mil pessoas. Com esse público, imaginem o total de dinheiro envolvido, e por que não interessa acabar com esse espetáculo cruel.

Até a rainha do rock brasileiro, Rita Lee, é contra os rodeios. E ela despejou o verbo em entrevista ao Fantástico: (fonte: Os Independentes, site da Festa do peão de Barretos ?!?)

“A rainha do rock declara guerra total aos rodeios! Sem meias palavras, Rita Lee exige o fim dos maus tratos aos animais. Diz que as arenas devem ser usadas apenas como palco de shows. Em entrevista ao Fantástico, sem entrar em detalhes, ela revela pela primeira vez que recebeu ameaça de morte.
Geneton Moraes Netto: Você diz que os rodeios são um vergonhoso lixo cultural americano trazido ao Brasil por pura maquaquice. Você espera ganhar essa briga contra os rodeios?
Rita Lee: Eu sei o que acontece nos bastidores desses eventos hediondos. Por isso que os bichos pulam daquele jeito. Eles não pulam de alegres ou porque são selvagens. Eles pulam porque são torturados antes de abrir as porteiras. É uma loucura essa coisa. Eu odeio rodeio. O povo continuaria indo assistir se, ao invés de montarias, o espaço fosse utilizado para atletas, circos, feiras, concursos de bunda, tanta coisa… É uma gentalha, que é tanta grana rolando que é difícil. É a mesma corja que faz farra d boi, briga de galo, são canalhas, são insensíveis. Eu quero que eles se danem. Gentalha!

Vamos protestar, mobilizar a sociedade e exigir que essa festa absurda, cruel e estúpida seja proibida em todo o país. Gostam de música sertaneja? Ótimo, façam um festival só de música. Querem festas populares? Façam festas juninas, carnaval, festas folclóricas, o que for, mas sem maltratar animais inocentes. Querem ganhar dinheiro? Procurem outro jeito que não seja explorando a dor dos animais e incentivando a violência.

Já vivemos em uma sociedade e cultura em que a violência é banalizada; notícias de crimes não nos impresionam mais, e só nos afetam quando envolvem pessoas conhecidas ou de nosso relacionamento próximo. Estamos nos tornando cada vez mais insensíveis à dor e ao sofrimento alheio, seja de pessoas ou animais. Está cada vez mais difícil nos tirar de nossa bolha de conforto e nos motivar a agir pelo próximo.

Animais são maltratados todos os dias, e ainda ouvimos “mas é só um cão”, “mas o boi vai morrer mesmo, e virar bife”, “ah, mas eles são abatidos de forma humanitária”. Uma ova!

Está na hora de recuperar nossa empatia, abrir os olhos e perceber que o sofrimento do outro também nos afeta; que o bem que deixamos de fazer pode fazer falta a alguém; que não somos só nós que sofremos dor, fome, sede, frio; que podemos usar nossa voz e ações para defender e ajudar os que não podem fazê-lo por si mesmos.

Odeio rodeio!

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Saiba mais:

O outro lado dos rodeios – Universo ambiental

Bezerro é sacrificado após ficar paralítico em prova da Festa do peão de Barretos – Estadão

Saiba quais são os artistas que se apresentam (e indiretamente apoiam) a Festa do peão de Barretos de 2011

Não existe rodeio sem crueldademarica.com.br

Cidades em que o rodeio é proibido (página do Orkut)

Link para baixar o modelo de Ação Civil de sucesso contra rodeios

Assine a petição contra a realização de rodeios no Brasil

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nossas_vidasO que têm em comum dois monges da época medieval, um casal de camponeses apaixonados na Irlanda do século 11, um viúvo triste em Portugal no ano 1500, que acaba de perder a esposa querida de tantos anos, uma mãe solteira que parte em busca de uma nova vida no Oeste americano, uma indiana que morre no parto no início do século 20?

Estas e outras histórias são contadas em Nossas vidas, romance de Sinara Foss que traz o tema da reencarnação e de almas gêmeas que se encontram ao longo de várias épocas.  Os contos curtos, interessantes e aparentemente desconexos, se encontrarão na história final, que se passa nos dias atuais.

“- Prazer em te conhecer, Silvie! – Ele estende a mão que ela olha ainda com medo. Por fim ela decide estender a sua também.

– Prazer em te conhecer também, Mark. – Ela sorri pela primeira vez.

Não tem mais medo dele. Sente-se bem ao seu lado e tem a sensação de que o conhece há muito tempo. Vê que todos os seus temores iniciais são infundados e que pode confiar nele. Seus olhos demonstram que ele é justo e bom e que é incapaz de fazer mal a ela e a menina.”

O casamento de Saionara está em crise, e em meio aos problemas que enfrenta ela sente-se fascinada por um homem que não conhece. Enquanto procura resolver sua vida, ela acaba descobrindo que viveu outras vidas e que o dono daqueles olhos verdes pode ter sido sua alma gêmea, com quem dividiu várias existências.

“Naquele dia, pela primeira vez o rapaz a olha quando passa por elas. Ele a olha bem nos olhos e ela percebe que seus olhos são verdes, muito verdes. Por um momento leva um choque, os olhos dele são os olhos com os quais ela sonha há anos. Quantas vezes acordara

no meio da noite com a certeza de ter olhado naqueles olhos? Quantas vezes acordara pela manha com a certeza de que aqueles olhos pertenciam a alguém muito importante na sua vida? Mas como ela é espírita, sempre pensara que os olhos eram de alguém importante do seu passado. No momento que seus olhares se encontram um frio lhe percorre a espinha e sua boca fica seca. Meu Deus? Por que isso? Quem é esse homem e por que eu me sinto assim? Por que eu sonho com os olhos dele há tanto tempo? Que papel ele tem na minha vida?”

A autora, sempre preocupada com os animais e o meio ambiente, desta vez apresenta uma história intimista e pessoal, com toques de romantismo e esperança. Ainda que a morte separe duas almas que se amam e se entendem, resta a esperança de novos encontros em vidas futuras.

E o que diz a doutrina Espírita sobre a afinidade dos espíritos?

P- A afeição que dois seres mantiveram na Terra prossegue sempre, no mundo dos espíritos?

R- Sim, sem dúvida, se ela se baseia numa verdadeira simpatia; mas se as causas de ordem física tiveram maior influência que a simpatia, ele cessa com as causas. As afeições entre os Espíritos são mais sólidas e mais duráveis que na Terra, porque não estão subordinadas ao capricho dos interesses materiais e ao amor-próprio.”

(Livro dos Espíritos, pág. 172, 39ª edição – 1979)

No mundo espiritual, os semelhantes se atraem; pessoas com afinidades e com a mesma vibração costumam prosseguir juntas seu caminho através de várias vidas. Da mesma forma, pessoas com vibrações negativas atraem outros espíritos sofredores, o que só agrava sua situação.

Neste livro conhecemos duas pessoas que se encontraram diversas vezes, e que mesmo sem se reconhecerem sentiram-se atraídas e viveram juntas em diversas vidas. Esse tema também foi abordado por Shirley MacLaine em diversos romances,  em que ela conta como reconheceu pessoas em sua vida atual que haviam convivido com ela antes, e dos problemas, alegrias e dores que haviam partilhado em outras existências.

Não por acaso deixamos de recordar as nossas vidas anteriores; devemos prosseguir sem lembranças do bem ou mal que recebemos e fizemos, para que isso não influencie nossas decisões em uma nova etapa da existência. Esse reconhecimento só é permitido se for benéfico para a compreensão de um problema ou se ajudar a superar um trauma ou fixação.

Neste romance, Sinara explora essa possibilidade de forma clara e interessante; as histórias iniciais são pequenos contos independentes, e o conto final explica e reúne todos os anteriores.  Uma história interessante e gostosa de ler, e que fala de amor e esperança.

O livro está em catálogo e pode ser comprado diretamente no site da autora, por e-mail ou pela livraria Cultura. Sinara Foss também é a autora de Divagações de Sissi, Memórias de um cachorro velho, Mulheres e Sissi no Futuro, que será lançado em abril de 2011.

*     *     *

Ficha:

Nossas Vidas – encontro de duas almas gêmeas ao longo da história (2008)

Sinara Foss

1ª edição – Editora Biblioteca 24×7

Mais livros de Sinara Foss:

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O segredo de Agatha Christie

Hoje, 15 de setembro, comemoram-se os 120 anos do nascimento de Agatha Christie, e muitos sites, blogs e até o Google estão celebrando a data.

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Dame Agatha Christie, nascida Agatha Mary Clarissa Miller, é a escritora com maior número de livros vendidos de todos os tempos, e divide com William Shakespeare o título de autor mais vendido de todos os gêneros. Seus 80 romances venderam 4 bilhões de cópias e foram traduzidos para 103 idiomas.

O sucesso de seus romances se deve à fórmula simples que ela usava: um assassinato abala o cenário pacífico de seus personagens, e a descoberta do culpado (e posterior punição) restaura a tranquilidade, criando a ilusão de que a razão humana pode compreender e resolver qualquer problema. Ela cria um enigma e apresenta a solução; isso tem um efeito catártico e tranquilizador nos leitores.

Sua linguagem também é simples e direta; os livros começam com grande quantidade de detalhes e descrições, e a partir da apresentação dos fatos e pistas, o ritmo da narrativa (e da leitura) se acelera quanto mais próximo do final, geralmente uma confrontação dramática e objetiva. Christie sabia como envolver seus leitores e prender sua atenção em uma narrativa cuidadosamente controlada, com pistas falsas e verdadeiras, deixando ao leitor  a tarefa de tentar desvendar o mistério antes do detetive; quantos de nós não apostamos nossas fichas neste ou naquele culpado, e vibramos quando nosso palpite estava correto? Mesmo quando não estava, gostamos de pensar que poderíamos ter acertado.

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Agatha Christie criou dois dos mais famosos detetives da literatura, opostos em tudo: a simpática velhinha Jane Marple, que com bisbilhotice discreta e curiosidade e lógica implacáveis, além de um excelente conhecimento da natureza humana, consegue desvendar os mistérios mais difíceis. Entre os doze livros em que Miss Marple aparece, destacam-se Convite para um homicídio, Assassinato na casa do Pastor, Um corpo na biblioteca e A maldição do espelho.

Com suas “pequeninas células cinzentas”, o detetive belga Hercule Poirot consegue resolver os crimes mais complexos. Apesar de pedante, meticuloso e perfeccionista, este é um personagem extremamente apreciado e, por incrível que pareça, simpático. Poirot aparece em 33 romances e 51 contos, entre os quais O misterioso caso de Styles (onde ele é apresentado ao público), Morte no Nilo, Morte na Mesopotâmia, Assassinato no Expresso do Oriente, O assassinato de Roger Ackroyd e por fim, Cai o Pano, última história de Poirot.

Agatha escreveu os dois últimos romances com seus personagens (Cai o Pano e Um crime adormecido) durante a Segunda Guerra, e manteve-os trancados no cofre do banco por mais de 30 anos, ate autorizar sua publicação no final de sua vida, quando percebeu que não poderia mais escrever romances.

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Da mesma forma que Arthur Conan Doyle, a escritora estava cansada de seu detetive mais famoso, mas resistiu à tentação de matá-lo porque o público o apreciava. Por outro lado, ela gostava de Miss Marple, apesar de ter escrito bem menos livros com ela. Christie nunca escreveu uma história com os dois detetives juntos, Poirot e Miss Marple, e em uma gravação descoberta e publicada em 2008, ela explica o motivo: “Hercule Poirot, um completo egoísta, não gostaria uma velhota mexeriqueira lhe desse sugestões ou lhe ensinasse seu ofício“.

Seus personagens não eram baseados em pessoas reais, mas em pessoas anônimas que ela observava em trens, restaurantes e a partir das quais construía a história. Suas tramas eram construídas a partir do crime; ela primeiro decidia o assassino, seu método e o motivo. Em seguida ela considerava os outros suspeitos e finalmente, definia as pistas falsas e verdadeiras. Ela anotava detalhes em cadernos, e por vezes uma trama permanecia incompleta por muito tempo, até que ela a completava rapidamente.

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(cena do game de "Morte no Nilo")

O universo de Christie refletia os lugares onde cresceu, morou ou visitou, assim como a estrutura social que conhecia. Nascida na Inglaterra vitoriana, ela estava acostumada com as vilas onde todos se conheciam e sabiam da vida uns dos outros; as grandes mansões com muitos criados, ou as casas de ‘classe média’ com poucos criados; as restrições e truques de sobrevivência durante e após a guerra; suas viagens pelo Oriente acompanhando o segundo marido, o arqueologista Max Mallowan; os refugiados de guerra vivendo em pequenas cidadezinhas da Europa; tudo isso está retratado em seus livros.

Mesmo que a maioria de seus romances siga a fórmula clássica do “whodunit”, com a apresentação dos personagens, o crime, a análise dos fatos e suspeitos pelo detetive e a conclusão, alguns de seus livros fogem a esse padrão, e então temos suas melhores e mais criativas histórias, como Assassinato no expresso do Oriente e O caso dos dez negrinhos.

Apesar de muitos críticos “torcerem o nariz” para as obras de Christie, ela é amada pelo público, e frequentemente seus livros são a primeira leitura “adulta” de crianças e adolescentes. Sua linguagem simples e direta, o fascínio de seus mistérios e a vontade de resolvê-los antes de Poirot ou Miss Marple, as descrições de um mundo que não mais existe, tudo isso contribui para torná-la uma das escritoras mais queridas do público de todo o mundo.

Seus livros foram adaptados para o cinema, TV, teatro, quadrinhos e video games. Poirot e Miss Marple foram interpretados por ótimos atores e atrizes, como David Suchet, Albert Finney, Peter Ustinov, Helen Hayes, Joan Hickson, Geraldine McEwan, Angela Lansbury e outros.

Para comemorar os 120 anos do nascimento da escritora, até o Google do Reino Unido criou um logotipo especial. Muitos sites, blogs e editoras também prepararam artigos e promoções especiais, e certamente muitos leitores hoje estão lendo ou relendo histórias da Dama do Crime. Viva Agatha!

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Para saber mais:

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Antes de passar à palestra, deixem-me explicar: adoro os livros de Isaac Asimov, e descobri há alguns anos um site excelente sobre ele, o Isaac Asimov Online, criado por Edward Seiler e que tem ótimas informações, dados bibliográficos, classificação de seus livros por assunto e listas dos livros das séries da Fundação e dos Robôs em ‘ordem cronológica’ das histórias. Vale a pena visitá-lo!

No site há um link para esta palestra, em inglês. Como o material foi considerado em domínio público pelo autor da gravação (mais explicações na introdução da palestra, logo abaixo), decidi traduzi-la para que mais pessoas possam conhecer as idéias inovadoras de Asimov, não só quanto a temas de ficção científica, mas em questões do dia-a-dia da humanidade e aonde isso pode nos levar.

O ‘bom doutor’, além de extremamente criativo, era uma pessoa de muito bom-senso. E isso fica evidente ao lermos a transcrição desta palestra, feita há 36 anos, e que no entanto continua atual e pertinente.

O texto é bem longo (mais de 9 mil palavras), mas vale a pena.

Boa leitura!

Para saber mais:

  • site asimov on Line (em inglês)
  • Entrada de Isaac Asimov na Wikipédia (em português)
  • site Império de Isaac Asimov (em português)

O Futuro da Humanidade – palestra de Isaac Asimov

(texto original em inglês, The Future of Humanity, retirado do site Asimov On Line; tradução de Cristine Martin)

Assunto: O Futuro da Humanidade

Local: Newark College of Engineering
Data: 8 de Novembro de 1974

O documento a seguir é a transcrição de uma palestra dada pelo Dr. Isaac Asimov. Ela vem de uma fita de áudio que mantenho em minha coleção desde a 6ª série. Ela não está disponível em lugar algum; por favor, não me mandem e-mails pedindo cópias. Eu a apresento ao grupo como tributo a um homem que mudou meu modo de pensar quando mais precisei.

Fiz algumas correções quanto a palavras mal colocadas, eliminei quaisquer gaguejamentos, etc. Essas edições não afetaram de modo algum o conteúdo pretendido da apresentação. Após ouvi-la por tantos anos, eu a compreendo completamente.

Enquanto vocês leem isto, tenham em mente que o bom doutor improvisou muitas de suas palestras. Geralmente, quando era solicitado a falar em um dado evento, ele perguntava qual era o assunto desejado e raramente, se tanto, preparava algo para a ocasião. A maior parte do que vocês leem aqui é inglês conversacional, e pode não parecer muito elegante no papel.

O que vocês leem aqui, apesar de eterno, é um produto de seu tempo. 1973 viu o fim de muito otimismo trazido dos anos 60, e o embargo do petróleo era a primeira inconveniência real experimentada pelos “baby-boomers” da América em escala nacional. Muitas famílias de classe média precisavam então do salário de duas pessoas, e o custo de vida estava subindo.

Vinte e dois anos se passaram desde que o bom doutor apresentou isto, e o conteúdo ainda carrega uma verdade universal. Mesmo que isto seja a única coisa que você leia, produzida pelo falecido Dr. Asimov, poderá ter uma boa ideia quanto ao nível de sua sabedoria. Eu sinceramente duvido que este mundo possa ver novamente outro indivíduo com habilidades remotamente próximas das dele.

Por favor, note que este material NÃO está protegido por direitos autorais, e eu o estou colocando em domínio público.

B. Torre
8 de junho de 1995″

INTRODUÇÃO (pessoa não identificada)

É agora com grande prazer que lhes apresento um homem que é provavelmente o escritor de ficção científica mais prolífico do mundo hoje. E, ele é também um homem muito erudito…e não vou falar mais, porque ele é muito mais esperto que eu. Apenas vou… bem, isto não é falar demais, mas… vou trazê-lo até aqui agora. Ahhn… por favor, recebam o Dr. Isaac Asimov.

(aplausos)

Palavras do Dr. Asimov:

Obrigado, obrigado. Eu tenho… vocês podem ouvir o que estou dizendo, ou terei de me inclinar até isto aqui?

(sem resposta)

Vocês podem me ouvir quando eu falo assim? Alguém?

(algumas pessoas respondem que podem entendê-lo.)

OK.

Minha viagem de Newark até aqui foi muito emocionante.

(risadas do grupo)

Porque, vocês sabem, minha correspondência vai para meu escritório. Que não é onde moro. E quando me disseram que iriam me buscar, eu cuidadosamente escrevi uma carta bem clara explicando exatamente onde moro. O que inevitavelmente fez que eles mandassem o pessoal para meu escritório.

(risadas suaves do grupo)

Enquanto eu estava lá na rua, esperando pelo carro, ouvido o tique-taque dos minutos passando, percebendo que eu deveria estar aqui às oito horas… fiquei desesperado. Finalmente chamei minha esposa ao interfone e disse: “Ligue para o escritório e pergunte se há alguns idiotas lá procurando por mim”(risos)

Ela fez isso e me chamou de volta, dizendo que era lá que eles estavam, e que ela havia dito a eles para virem aqui. Eu disse: “Por que você fez isso? São quatro quarteirões. Eles nunca vão conseguir!”

(risos)

Eles quase não conseguiram.

(risos)

Tive de esperar mais dez minutos.

(risadas fracas)

Então, mas finalmente chegamos aqui cinco minutos adiantados. E batemos em uma porta fechada.

(risadas fracas)

E um guarda de segurança abriu e disse: “Você não pode entrar”.

(risadas fortes)

E os dois rapazes que estavam comigo, que pareciam estudantes de faculdade… tipos bem insípidos…

(risadas fracas)

…disseram: “Tudo bem com a gente”, ele disse, “Mas este é o palestrante”. E o guarda olhou para mim e disse: “Este é o palestrante?” E eles disseram que sim. “Eu ouvi dizer que o palestrante está lá em cima”

(risadas bem fortes)

E então entramos por outra porta onde não havia nenhum guarda.

(risos)

E aqui estou eu. Agora, aquele outro palestrante não vai dizer uma palavra a vocês, mas aposto que ele vai receber o cachê.

(risos)

Ahhh… Mas de qualquer modo, agora vocês percebem por que odeio viajar. Minha discussão sobre o futuro do homem se aplica muito, muito bem ao que acabou de acontecer comigo, como vocês logo vão ver. Deixem-me explicar.

Uma vez, quando eu não tinha nem dezenove anos, escrevi uma história chamada “Trends” (tendências). Foi a primeira história que vendi a John Campbell para a velha “Astounding Science Fiction”. Ela apareceu no número de julho de 1939.

E nela eu falei da primeira viagem ao redor da Lua e de volta à Terra . Eu a situei na década de 1970. A primeira tentativa, que foi um fracasso, foi em 1973. E a segunda tentativa, que foi um sucesso, foi em 1978. O voo verdadeiro aconteceu em 1968, então fui conservador em dez anos. Além disso, meu voo foi tudo o que houve, enquanto que na vida real o voo ao redor da Lua foi precedido de todos os tipos de voos orbitais e sub-orbitais, e acoplamentos, e correções de meio-curso, e satélites de comunicação, e satélites de navegação… tudo o que há sob o sol.

Então vocês podem ver como eu estava errado. De fato, eu estava ainda mais errado que isso, porque quando eu escrevi minha história, em 1939…38, ela foi publicada em 39… quando escrevi essa história, eu tinha ideias definidas sobre como um voo espacial aconteceria.

Em primeiro lugar, eu fiz meu inventor construir uma espaçonave em seu quintal.

(risadas fracas)

Em segundo lugar, eu tinha a atitude de que qualquer homem suficientemente bom para construir uma espaçonave era bom o suficiente para pilotá-la.

(risadas fracas)

O que eu quis dizer era que o inventor era o astronauta, uma grande economia de tempo e trabalho.

(risadas fracas do grupo)

Além disso, não me preocupei em estabelecer bases de computadores em nenhum lugar… especialmente, não no Texas. Porque hoje em dia, para ser perfeitamente honesto com vocês, e isso é o que eu gostaria de ser, perfeitamente honesto. Para ser perfeitamente honesto com vocês, eu realmente não vejo qual é o grande problema sobre chegar à Lua com computadores e as correções de meio curso. Sei que vocês são um bando de engenheiros, e vocês sabem melhor que eu, mas eu pergunto… uma vez que vocês tenham deixado a atmosfera, vocês vêem ou não vêem a Lua?

E se vocês vêem a Lua, é só ir até ela, não?

(risadas mais fortes)

Na verdade, a única coisa que me deixou confuso… a única coisa que me deixou confuso nessa história é de onde lançar a espaçonave. Eu vivi no Brooklyn toda a minha vida, e olhando ao redor percebi que não havia um lugar de onde lançar uma espaçonave com segurança…

(risadas)

… sem causar a ira dos cidadãos.

E então pensei que seria melhor lançá-la de algum lugar fora do Brooklyn. E isso me deixou imediatamente encrencado porque eu não sabia, com certeza, se existia algum lugar fora do Brooklyn.

(risos)

Quer dizer, ouvi alguns rumores a respeito, mas eu sou um sujeito muito difícil de enganar. Eu gosto de provas concretas. Mas percebi que tinha de fazer alguma coisa, então eu lancei a nave… a espaçonave… dos limites mais distantes do mundo conhecido. Para ser mais preciso, na Cidade de Jersey.

(risadas muito fortes)

Não estou brincando. Eu realmente o fiz. E ainda assim, eu vendi esta história.

(risadas)

Não apenas vendi esta história, mas ela foi reimpressa cinco vezes. A última vez, em 1973. Naquela época, eu suspeitava que a maioria das pessoas podiam perceber que os detalhes na minha história estavam errados.

(risadas fracas)

Bem, por que isto, vocês se perguntam? Eu lhes digo. A história não foi impressa por causa de qualquer um dos detalhes de engenharia… desculpem a expressão. Ela foi publicada porque eu tinha algo que o editor nunca havia visto antes. Eu havia postulado a resistência a um voo espacial. Havia uma grande organização de pessoas na terra que ficavam doentes com qualquer coisa sobre as pessoas tentarem sair para o espaço. Eles achavam que as pessoas deveriam ficar na terra e cuidar de seus próprios negócios. E isto nunca havia sido postulado antes. Nunca!

Até aquele momento, o único modo que a viagem especial havia sido tratada era ou o herói ir para Deneb ou algum lugar desse tipo, e lutar com os homens-ostras de lá,

(risadas fracas)

… e casar com a linda princesa que põe ovos,

(risadas fracas)

…sem qualquer referência seja da terra ou das pessoas que vivem lá. Por outro lado, o único modo de lidar com o voo espacial era ter o herói pousado na Lua, ou em outro lugar parecido, e então fazê-lo voltar e ser recebido com um desfile com chuva de papel picado, com todos muito felizes com seu ato heróico.

Nunca ocorreu a ninguém que realmente poderia haver alguma resistência ao conjunto da ideia; as pessoas deviam pensar que era uma ideia estúpida e um desperdício de dinheiro.

Depois que escrevi a história, novamente, ninguém teve a ideia. Não acho que alguma outra história tenha aparecido, onde houvesse algum tipo de oposição ao voo espacial. Digo, a princípio. Até a época em que a oposição apareceu.

E então vocês devem pensar como é possível que um rapazinho de dezoito anos, muito simples e ingênuo, que literalmente e honestamente duvidava se havia algum lugar fora do Brooklyn. Como era possível que ele pudesse ver algo tão claro, que cabeças mais velhas e mais duras não conseguiram ver?

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O que tem maior impacto no nível de felicidade de uma sociedade? Se você pensou que é a riqueza, está enganado.

O epidemiologista britânico Richard Wilkinson estuda há algumas décadas por que algumas sociedades são mais saudáveis que outras. Ele descobriu que o que torna uma sociedade saudável não é o que ela tem a mais que outras – mais renda, mais educação, mais riqueza – mas a igualdade na distribuição dos bens.

Ele também constatou que muitos problemas sociais, desde doenças mentais ao abuso de drogas, são piores em sociedades desiguais. Os efeitos dessa desigualdade também incluem a diminuição da confiança, o aumento de doenças e a ansiedade, que encoraja o consumo excessivo.

Por outro lado, sociedades com menores diferenças entre ricos e pobres, ou seja, menor desigualdade social, são mais resilientes e seus membros têm vidas mais longas e felizes.

Ao analisar e comparar as sociedades, Wilkinson observou os índices de problemas como expectativa de vida, doenças mentais, gravidez na adolescência, violência, a porcentagem da população que está em prisões e uso de drogas. Esses índices eram muito piores em países com alta desigualdade social. A renda per capita não tem muito efeito nas previsões da taxa de mortalidade de um país, mas a distribuição de renda sim. Em países desiguais, esses problemas aumentam de dez a doze vezes que em países com maior igualdade.

O curioso é que sempre pensamos nesses problemas como ligados à pobreza. Wilkinson mostra que eles estão ligados não à renda, mas à estratificação da renda. Essa é uma ideia que a maioria de nós já tinha, intuitivamente – pensávamos que a concentração de renda era um fator pernicioso – e agora sabemos que isso é verdade.

Wilkinson lembra de um psiquiatra de prisão que passou 25 anos conversando com homens muito violentos, e disse que ainda não vira um ato de violência que não tivesse sido causado por desrespeito, humilhação ou perda da dignidade. Esses fatores desencadeiam a violência e são mais intensos em sociedades desiguais, onde o status e a competição são intensificados e somos mais sensíveis a julgamentos sociais.

Os efeitos psicossociais da desigualdade são os maiores fatores de estresse. Somos seres sociais, e o ambiente e os relacionamentos sociais nos afetam em grande escala. A competição e a ansiedade para manter o padrão social que (acreditamos que) esperam de nós causam grande estresse e levam a dívidas. Isso faz que as pessoas trabalhem mais, consumam mais (o que consumimos mostra quem somos, ou assim pensam as pessoas), e isso torna-se um círculo vicioso que cada vez mais diminui a sensação de felicidade e prejudica os relacionamentos. Nunca é o suficiente.

Outra consequência da desigualdade sobre os relacionamentos é que ela cria uma hierarquia social baseada no poder – e o que o acompanha: status, riqueza, acesso privilegiado a recursos. E essa hierarquia é um potencial para conflitos. Felizmente, ao mesmo tempo em que somos animais sociais, sujeitos a essas consequências da desigualdade, também temos o potencial para o amor, aprendizado e cooperação. Podemos anular esse potencial para conflitos através da participação, compartilhamento e generosidade, não só no sentido material.

Entre os países ricos com maior igualdade estão o Japão e a Suécia. Esta última tem grandes diferenças salariais, que são redistribuídos através de impostos e benefícios. O país tem uma grande taxa de assistência social pelo estado, que cuida da assistência médica, educação, seguridade social e seguro desemprego. Por outro lado, o Japão tem menos diferenças salariais, faz muito menos redistribuição e não tem grandes gastos sociais. Ambos os países vão muito bem; estão entre os países com maior igualdade e os resultados sociais são muito positivos.

Mas uma sociedade não pode depender apenas dessas medidas para garantir a felicidade, pois elas estão ao sabor dos governos e da política. A estrutura de igualdade deve estar profundamente enraizada na sociedade. Empresas amigáveis, com participação dos funcionários, cooperativas, transparência na contabilidade, geram maior produtividade e funcionários mais felizes.

Essa sensação de igualdade também se reflete em outras áreas, como a sustentabilidade. Os índices de reciclagem, a diminuição do consumo, o consumo consciente, vêm da sensação de estar colaborando para o bem comum. E isso é mais frequente em sociedades saudáveis e com maior igualdade.

Um bom exemplo de sociedade saudável e feliz é o Butão, a democracia mais jovem do mundo. Na verdade, o pequeno país asiático tem o índice de "Felicidade Interna Bruta" (FIB), que guia a política do Butão e seu modelo de desenvolvimento. Quem começou isso foi o Rei Jigme Singye Wangchuck, que há 35 anos tornou-se o quarto rei do Butão, com apenas 18 anos de idade.

O Rei Jigme, que foi educado no Reino Unido, é muito querido pelo povo, que não tem uma só palavra de crítica ou censura a ele. No dia de sua posse, ele disse que "A felicidade interna bruta é muito mais importante do que o produto interno bruto". Sua ideia é que o modo de medir o progresso não deve ser baseado apenas no fluxo de dinheiro. Uma sociedade só se desenvolve verdadeiramente quando os avanços material e espiritual se complementam e reforçam um ao outro. Cada passo de uma sociedade deve ser avaliado em função não apenas do rendimento econômico, mas também se ele leva ou não à felicidade. É o bem comum em primeiro lugar.

O fato de o país ser de maioria budista ajuda a explicar o sucesso dessa filosofia e prática de governo. Outro fator que contribuiu foi o relativo isolamento do Butão quanto ao resto do mundo. A televisão e a internet chegaram ao país apenas em 1999. Thimpu é a única capital do mundo sem semáforos, e o aeroporto internacional tem apenas uma pista.

Para o Butão, os quatro pilares que devem inspirar cada política do governo são:

  1. Um desenvolvimento sócio-econômico sustentável e equitativo
  2. A preservação e promoção da cultura
  3. A conservação do meio ambiente
  4. O bom governo

Para garantir que as decisões do governo estão indo na direção certa, os cidadãos butaneses respondem um questionário a cada dois anos, com perguntas sobre como o cidadão percebe sua vida em nove áreas principais. A análise das respostas indica se o povo está se sentindo feliz, e quais áreas merecem mais atenção por parte do governo. O questionário é a base para o cálculo do índice de Felicidade Interna Bruta.

O Butão é um país pequeno, com apenas 700 mil habitantes, e sua economia depende da energia hidráulica e do turismo sustentável. O país recebe ajuda externa, há pouca corrupção, e ainda assim em 2007 o Butão foi a segunda economia que mais rápido cresceu no mundo.

Apesar da receita butanesa não ser exportável, ela serve para inspirar outros países a repensar as decisões de seus governos. Se o FIB não pode ser usado pelos países ocidentais para medir o grau de felicidade e saúde de seus cidadãos, tampouco o PIB serve para isso.

Vivemos em sociedades altamente competitivas, e estamos sempre correndo atrás de algo – correndo para pagar as contas, para alimentar nossos filhos, para manter o emprego, para conseguir um emprego, para fazer mais um curso, para manter a cabeça fora d´água. E o resultado reflete-se na nossa saúde e em nossa falta de felicidade.

Talvez se tomarmos consciência disso e mudarmos individualmente, se cobrarmos de nossos governantes uma maior transparência e atitudes que beneficiem a todos em vez de a uma minoria privilegiada, se participarmos mais – seja através do voto, de nossas opiniões, de trabalhos voluntários – talvez consigamos dar o primeiro passo em direção a uma sociedade menos violenta, e mais saudável e feliz.

* * *

Para saber mais:

"What makes the healthiest and happiest societies? Hint: it´s not wealth" – artigo de Brooke Jarvis no site AlterNet

"Butão: o reino que quis medir a felicidade" – artigo de Pablo Guimón, publicado originalmente no jornal El País em 29/11/2009, cuja tradução (de Moisés Sbardelotto) está no site Sun Net.

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Um interessante artigo do site AlterNet levanta uma questão no mínimo preocupante: nos EUA, é mais barato comer um hambúrguer do que uma salada devido aos grandes subsídios oferecidos pelo governo norte-americano aos produtores de carnes e laticínios. O gráfico abaixo mostra que esses produtos recebem 73,80% dos subsídios governamentais, enquanto cereais recebem 13,23% e frutas e vegetais, apenas 0,37%.

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Ao comparar as duas pirâmides do gráfico, vemos que a dieta saudável e ideal deveria ser composta de cereais, vegetais e frutas, e que os produtos proteicos, geralmente de origem animal, deveriam responder por uma pequena parte da dieta.

Entretanto, devido à disparidade de preços, famílias americanas com poucos recursos ingerem mais fast-food que deveriam, simplesmente porque esses alimentos são mais baratos e de fácil acesso que frutas e vegetais. Infelizmente, a diferença será gasta mais adiante, em médicos e remédios.

A procura por alimentos orgânicos e locais ainda está limitada aos que têm condições financeiras para buscar uma alimentação mais saudável; a população menos informada e com menos recursos (e tempo para cozinhar em casa) acaba ingerindo uma dieta rica em proteínas, gordura e carboidratos simples, que somados à falta de atividade física, levam aos altos índices de obesidade que afetam especialmente os menos favorecidos.

Na raiz desse problema está a legislação "Farm bill", que fornece bilhões de dólares em subsídios, cuja maior parte vai para grandes agronegócios que produzem milho, soja, trigo, algodão e arroz; os dois primeiros são usados na alimentação do gado. No final, esses subsídios "agrícolas" vão mesmo para a produção de carne.

Por outro lado, agricultores que produzem frutas e vegetais recebem menos de 1 por cento da ajuda do governo. O subsídio incluído na Farm Bill foi criado como um programa temporário em 1996, mas foi mantido pelas farm bills de 2002 e 2008.

O artigo também alerta que desde 1978 o preço dos refrigerantes caiu 33 por cento enquanto o preço das laranjas subiu 40 por cento. Não foram só esses números que mudaram desde a década de 70: o peso médio de um jovem de 18 anos hoje é 7 kg maior que o de um jovem de 18 anos no fim dos anos 70. O peso médio de uma mulher de 60 anos hoje é 9 kg maior que o de uma mulher de 60 anos no fim dos anos 70. O peso médio de um homem hoje tem 11 kg a mais. Os americanos estão ficando mais gordos e menos saudáveis.

Mas os grandes produtores de alimentos não são os únicos beneficiados pela política de subsídios governamentais norte-americanos; no capítulo mais recente da disputa entre o governo dos EUA e a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Brasil recebeu autorização da OMC para retaliar os EUA pelos prejuízos causados pelos subsídios aos produtores de algodão. A China é o maior produtor mundial de algodão, enquanto EUA estão em segundo lugar e o Brasil é o quinto da lista.

Os subsídios têm prejudicado a exportação de algodão pelos outros países, favorecendo os EUA na concorrência, pois seus preços caem artificialmente e provocam a queda dos preços internacionais dos produtos. Com a retaliação, que deve se iniciar em abril, diversos tipos de produtos importados dos EUA terão aumento nos impostos de importação. A medida afeta principalmente artigos de luxo como automóveis, eletrônicos e cosméticos, mas também o trigo.

Antes de 1996, os produtores agrícolas recebiam subsídios com base no tipo de colheita e nos preços de mercado. Tal política fazia que os agricultores decidissem o que plantar com base mais na política do governo que nas demandas do mercado. A reforma "Freedom to Farm", aprovada naquele ano, separou os subsídios daquelas condições. A partir daí, os agricultores recebiam valores fixos, sem importar o que fosse plantado. Com o tempo, a maior porcentagem dos recursos ficou nas mãos de poucos grandes produtores.

No início de 2009 o presidente Obama havia declarado o corte dos pagamentos diretos aos produtores agrícolas mais ricos (com ganhos de mais de $ 500 mil dólares por ano), a redução de subsídios para seguro rural e a eliminação de créditos para o armazenamento de algodão para o orçamento de 2010. A decisão da OMC indica que ele não cumpriu com essas determinações.

O Congresso dos EUA rejeitou por duas vezes o veto do presidente Obama à Farm Bill de 2008. No início de março deste ano, o Senado norte-americano aprovou um aumento no teto do subsídio a ser recebido individualmente pelos agricultores. O valor aprovado é de até 360 mil dólares por ano para cada produtor.

Como comparação, o maior gasto com subsídio agrícola no Brasil é na complementação da taxa de juros devida pelo agricultor aos bancos. Essa ajuda chega a R$ 60 bilhões por ano.

Os Estados Unidos e a Europa, que seriam grandes mercados para nossos produtos agrícolas, subsidiam seus produtores e suas exportações, o que gera uma concorrência desleal com países que não têm essa ajuda de seus governos. Ao mesmo tempo, exigem a abertura de nosso mercado.

No artigo do site MX Trading, o Prof. de Economia Rural da UFP, Eugênio Stefanello, diz que "os Estados Unidos não se constrangem em violar as normas do comércio internacional quando querem beneficiar seus produtores e chama isto de segurança alimentar ou promoção do desenvolvimento econômico interno. Os americanos já anunciaram que vão continuar subsidiando a sua agricultura e que querem aumentar suas exportações do agronegócio".

O Prof Stefanello afirma que ao Brasil resta buscar, através da OMC, o cumprimento das normativas internacionais, e que a estratégia que vem sendo usada pelo nosso Ministério da Agricultura é o melhor meio de enfrentar essa concorrência. O setor privado deveria aumentar a produtividade, reduzindo custos e melhorando a qualidade de seus produtos. O setor público deveria adotar uma política agrícola baseada na estabilização da renda, reduzindo a carga tributária, facilitando o transporte e simplificando a burocracia e negociando a redução de barreiras impostas pelos outros países à importação de produtos brasileiros.

O Brasil hoje exporta principalmente para a China, EUA e Europa; com essas medidas e o combate à política de subsídios usada pelos outros países, as exportações brasileiras poderiam crescer, o que seria bom para o PIB brasileiro e, por que não, para a dieta dos norte-americanos. Afinal, um sanduíche (não necessariamente hambúrguer) acompanhado de uma boa saladinha é bem melhor e mais saudável, não?

Para saber mais:

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