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Archive for the ‘João Ubaldo – 2001’ Category

A fã número zero – João Ubaldo Ribeiro

– Você me desculpe eu sentar assim em sua mesa sem ser convidada, mas eu sei que você é um homem simples e, além de tudo, uma figura pública. Uma figura pública tem de aceitar esse tipo de coisa. Estou interrompendo sua conversa?

– Bem, para ser sincero, está. Nós…

– Eu não vou tomar seu tempo absolutamente, é só para aproveitar a oportunidade de estar com você em pessoa e falar umas duas coisinhas, não vou interromper nada, pode ficar tranqüilo. É que eu sou sua fã número 1, pode ter certeza. Número 1, não, número zero! Tenho a maior admiração por você, não perco nada do que você escreve. E olhe que eu tenho horror de baiano!

– Eu sou baiano.

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Ano novo, vida velha – João Ubaldo Ribeiro

Amanhã, como sabemos, termina este ano. E, como também sabemos, embora paradoxalmente, depois de amanhã não começa o ano-novo. Aliás, nutro o receio de que não haverá 2002 no Brasil. Lembremos que, normalmente, qualquer ano-novo, entre nós, só começa depois da Semana Santa. Mas, depois da Semana Santa, haverá a Copa do Mundo e, depois da Copa do Mundo, teremos eleições. A Copa, bem verdade, só ocupará o tempo anterior a ela, pois tudo indica que, ingressada nela, nossa briosa Seleção será despachada para casa depois de uma derrota de 5 a 1 contra a aguerrida equipe do Kozofiquistão Oriental, ou país semelhante — tudo culpa do juiz ladrão, é claro, para não falar que o Kozofiquistão cada vez mais se firma como uma potência no futebol.

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Profissionais do futuro – João Ubaldo Ribeiro

— Não é preciso mais fazer anamnest… Anamsti… Ananes… Deixa pra lá, de qualquer forma é uma palavra difícil para um leigo entender. Não é preciso que eu lhe faça mais perguntas sobre sua doença. Os exames estão claros.

— O senhor desculpe, mas esse eletro aí não está de cabeça para baixo? Eu não entendo nada disso, mas é que o logotipo da clínica está de cabeça para baixo e aí eu imaginei que o exame também está.

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Beijinho, beijinho – João Ubaldo Ribeiro

Quando eu era rapazinho (sei que não parece, mas já fui rapazinho; fui até neném, vejam vocês — pelo menos é o que me garantem os mais velhos), não tinha esse negócio de beijinho para cumprimentar amigas ou mesmo para celebrar apresentações, como acontece hoje em dia. Em Portugal, por exemplo, quando sou apresentado a uma dama, vêm logo os dois beijinhos, no caso habitualmente dados no ar e encostando as bochechas e, no Brasil, isto está ficando cada vez mais freqüente. Quem queria beijar a dama tinha de resignar-se, mesmo que a dama estivesse querendo outra coisa, a um beijo na mão, também comumente dado sem se encostarem os lábios na dita mão. Beijo na cara era porrada certa, fosse da dama ou de seu cavalheiro, ou de ambos.

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Nova visitinha da TV – João Ubaldo Ribeiro

— Bom-dia.

— Boa-tarde.

— Eu sei, nós marcamos para as onze e só estamos chegando agora. É que…

— …O trânsito em Botafogo e na Lagoa estava um inferno.

— Como é que você adivinhou? É isso mesmo. E um carro quebrou no túnel, foi a maior zona. Desculpe.

— Não tem problema, eu já estava esperando mesmo que vocês chegassem agora.

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— Tu já parou pra pensar que o pessoal de hoje é a última geração que vai fazer sexo?

— Que besteira, cara, sexo é básico no ser humano. Sem sexo, não existia nada, nem eu nem você.

— Isto era verdade. Agora não é mais, tu vive mesmo por fora, né, cara? Tu não leu sobre a clonagem do ser humano?

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Memória de Tom – João Ubaldo Ribeiro

Bem que fui convidado para um evento que minha amiga Scarlet Moon organizou recentemente, convocando para uma conversa pública alguns dos companheiros de Tom Jobim, mas não apareci. Balbuciei umas desculpas meio esfarrapadas, gaguejei e consegui declinar da honraria. Scarlet, sempre um encanto, entendeu a recusa, mas não explicitei a verdadeira razão para minha atitude, me deu vergonha. Não fui mesmo porque sou chorão e fiquei com medo de abrir o berreiro, na hora de falar. Tenho quase certeza de que choraria, como chorei no velório dele. Na semana de sua morte, em sessão da Academia Brasileira de Letras, tomei a iniciativa de propor um voto de pesar, que foi aprovado, embora eu não tenha terminado de formular decentemente a proposta porque, claro, chorei e fiquei com a voz trêmula e inutilizável.

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