Maria Lúcia
Hoje, 21 de agosto de 2012 mais uma estrela apareceu no céu, Lucinha, como nós a chamávamos.
Ela nasceu em Gandu, na madrugada fria de 21 de junho. Lembro-me como se fosse ontem. Eu estava muito contente aguardando a chegada de um neném.
A minha irmã Risete já estava lá em casa aguardando Dona Francisca, que era a parteira. Ela andava de um lado para o outro, inquieta com as mãos nas cadeiras. A nossa gatinha, branca, seguia atrás dela, às vezes passando por suas pernas. Mamãe muito preocupada mandava que eu fosse dormir, pois o neném ainda ia demorar a chegar. Mas quem disse que eu queria dormir? Eu queria mesmo era participar de tudo. O sono me venceu. Dormi. Acordei aos saltos com choro de uma criança que acabara de nascer. Dona Francisca e mamãe, lá no quarto mesmo, deram banho nela, numa bacia de alumínio onde foram colocadas algumas jóias para dar sorte. Eu, papai, Ari e Rui esperávamos ansiosos para conhecer o novo membro da família. Como essa espera demorou! Quando menos esperávamos a porta do quarto se abriu e Dona Francisca apareceu com Lucinha no colo e entregou-a a Ari . Que alegria! Ela era linda! Parecia uma boneca!
Logo logo o dia amanheceu e mamãe mandou que eu fosse avisar a Dona Iazinha, a outra avó.
No inverno, em Gandu, o dia amanhecia coberto de neblina, não dando para ver as matas. Conforme o sol ia aparecendo, a neblina ia sumindo.
Cheguei na casa de Dona Iazinha e dei a boa notícia.Na cozinha dela tinha um fogão de lenha, onde estavam algumas batatas doces, assando na brasa. Ela me ofereceu uma. Acho que comi, não me lembro bem, pois o que eu queria mesmo era voltar correndo para minha casa curtir a minha sobrinha. Quando voltei, fui ver Risete que estava deitada na cama da mamãe com Lucinha ao lado, muito preocupada com a Celeste, porque ela estava com um certo ciúme da irmã e era muito levada, arteira!
A hora do almoço chegou, e eu louca pra comer o “escaldado de parida” feita especialmente para a parturiente. Que delícia!E a meladinha! Tudo feito com muito cuidado e carinho.
Lucinha cresceu uma menina linda, meiga, doce, terna, com aqueles olhos azuis mais lindos do mundo!
Sempre fomos muito unidas, apesar de ser tia, e mais velha.
Nos casamos no mesmo ano, tivemos filhos , no mesmo ano, compramos casa no mesmo ano, tiramos férias juntos, enfim Lucinha e eu sempre tivemos muita coisa em comum éramos muito ligadas, embora morássemos longe. Com sua ternura e mansidão, soube bem criar e educar as suas filhas: Daniela e Fernanda, (esta minha afilhada), juntamente com o seu companheiro Paulo, digo companheiro, pois, quando ela descobriu a doença,ele se manteve sempre ao seu lado, lutando com a justiça para conseguir os remédios e com a IBM para melhor atendê-la, isso tudo sem contar com o trabalho diário de uma casa, cozinhando lavando roupa, fazendo compras, pagamentos, cuidando dos cachorros e ainda trabalhando no seu site para ganhar um dinheirinho. Ninguém é perfeito, todos nós temos os nossos defeitos, as nossas limitações, mas nem por isso podemos esquecer as coisas boas que praticamos.
OBRIGADA PAULO .
ADEUS MINHA QUERIDA, QUE DEUS TE ACOMPANHE, FIQUE EM PAZ, VOCÊ ESTARÁ SEMPRE PRESENTE EM NOSSOS CORAÇÕES.
Sua tia Zélia
Sorriso de Lucinha – Fernanda Teixeira (filha)
As lágrimas são inevitáveis, pois a minha mãe sempre foi linda, perfeita, sem defeitos (por mais que insistisse em dizer que os tinha). Não por acaso recebeu o nome “Lúcia”, que quer dizer LUZ! Ela é um ser que veio para iluminar as nossas vidas e, assim como os seres de luz, partiu após cumprir lindamente a sua missão. Ela sabia que não partiria tarde e, de certa forma, nos preparou a vida toda para a sua despedida. Mas digo a ela que não adiantou muito, não. A dor é insuportável!
E ao contrário dela, sei que sou cheia de defeitos, mas creio ter um bom crédito com o “cara lá de cima”. Afinal, quantas pessoas no mundo tiveram a oportunidade de estar com ela? Eu fui gerada, embalada, cuidada e recebi o maior amor que um ser humano é capaz de receber. Como não me sentir privilegiada? Não, não existe algo maior que isso.
E agradeço muito a Deus por ter tido a oportunidade, até o último segundo, de falar que a sua “pintinha” (como ela me chama) a ama, que está com ela e que estaremos sempre juntas. Sim, falo no presente, pois estamos separadas apenas fisicamente. E sei também que isso é apenas um “até logo”…
O lado positivo deste longo período de dor é que a minha admiração, o meu orgulho e o meu amor pelo meu pai só cresceram. Ele foi incansável, esteve ao lado dela dia e noite e demonstrou ser tudo aquilo que eu esperaria de um pai. Segurou uma barra que poucos suportariam e certamente jogariam a toalha nos primeiros minutos. Só com muito amor, muito carinho e companheirismo.
Deixo aqui o trecho da música da minha mãe. Música que a mais fazia feliz e que ela, apesar de debilitada, ouviu comigo pouquíssimos dias antes de sua partida. E sorriu lindamente, com aquele sorriso que era único e cheio de bondade. Sorriso de Lucinha.
La Barca Luis Miguel
Dicen que la distancia es el olvido
Pero yo no concibo esta razón
Porque yo seguiré siendo el cautivo
De los caprichos de tu corazón
Supiste esclarecer mis pensamientos
Me diste la verdad que yo soñé
Ahuyentaste de mí los sufrimientos
En la primera noche que te amé
Hoy mi playa se viste de amargura
Porque tu barca tiene que partir
A cruzar otros mares de locura
Cuida que no naufrague tu vivir
Cuando la luz del sol se esté apagando
Y te sientas cansada de vagar
Piensa que yo por ti estaré esperando
Hasta que tú decidas regresar