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Archive for the ‘João Ubaldo – 2007’ Category

Declarações exclusivas – João Ubaldo Ribeiro

Estou acostumado à presença dele. Como trabalho junto ao terraço, costumo dar uma saidinha para vê-lo, sempre na mesma postura, às vezes aureolado de nuvens. É bom e quase sempre dou uma rezadinha rápida, antes de começar o dia. Mas não espero resposta direta, teofania é para os escolhidos e não vou me arrogar a pertencer a esse time. A vida, contudo, tem muitos mistérios, a começar por ela própria, e foi assim que tomei um susto, ao ouvir uma voz de timbre claro e sonoro, perto e ao mesmo tempo distante.

— Você aí — disse a voz.

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Was für ein Lügner! – João Ubaldo Ribeiro

Não sei por quê, algo me diz que a frase acima (“que mentiroso!”, em alemão) será das mais proferidas entre alguns círculos intelectuais de Berlim, nas próximas três semanas, ou coisa assim. Hoje embarco para lá, onde devo passar uns vinte dias. (Receio que nenhum de vocês possa comemorar o fato, porque, a não ser que meu bravo quão idoso notebook negue fogo, pretendo mandar a coluna a partir de lá, não contavam com a minha astúcia.) Como sempre, nessas ocasiões, não sei bem para o que me convidaram e o que vou fazer, mas, apesar de inicialmente atarantado, acabo por não envergonhar Itaparica e os amigos, digo lá minhas coisinhas em que eles prestam atenção.

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Creio já ter tido a oportunidade de ocasionalmente mencionar aqui meu grande amigo e companheiro de boteco Carlinhos Judeu, com quem convivo quase todo fim de semana desde a era cenozóica, ou qualquer que seja o nome do tempo em que a juventude acha que ficamos adultos. Na verdade, creio que devo confessar a razão pela qual nunca escrevi mais prolongadamente sobre ele. A vida de Carlinhos, que causaria inveja de Casanova a Rockefeller, requereria a dedicação de um biógrafo experiente e incansável, porque, como é do conhecimento de todos os que freqüentam o renomado boteco Tio Sam, o que Carlinhos já viu, viveu e sabe daria para lotar as prateleiras de uma estante. Além disso, a revelação pública de suas proezas no setor Casanova poderia causar justificadíssima revolta entre namorados, noivos, maridos e pais por este mundo afora, de maneira que revela prudência quem deixa para os pósteros o laborioso inventário dos feitos dele entre as damas. Mas sei, por exemplo — e divulgo em primeira mão — que Bimba Gogó de Prata, nos raros intervalos de sua agenda de seresteiro, já está rabiscando um escorço preliminar, provisoriamente intitulado “Alcovas em chamas: A vida fogosa de um incendiário de corações”. Bimba, que é formado em tudo, de aviador a advogado, é também uma pena de respeito e tenho certeza de que será um best-seller. No verdor de seus setentinha, Bimba ainda vai longe.

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Meu primeiro emprego, acho que já contei aqui, foi num jornal. E, como creio que também já contei, fiz de tudo em redação — até escrever horóscopo sem conhecer nem os signos direito, Deus tenha piedade de minha alma. Não me saí muito mal na maior parte das funções que ocupei, mas sempre fui péssimo repórter. Até hoje tenho inveja dos repórteres de verdade e uma das razões por que gosto de ir às Copas do Mundo é apreciar a moçada competente trabalhando.
Por causa disso, hoje é um dia emocionante para mim, pois o destino bondoso me escolheu para dar uma notícia sensacional, com absoluta exclusividade. Tenho certeza de que Ariovaldo Matos, meu primeiro chefe de reportagem, está sorrindo, no céu em que não acreditava, mas onde se encontra já há alguns anos. Como bom repórter, não posso revelar minhas fontes, mas vocês vão ver como tudo se encaixa. Se tenho provas? Não, não tenho, mas aqui, pelo que invariavelmente vejo e ouço, ninguém tem provas por mais que tenha provas, de maneira que não destôo da condição geral.

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Teoria Geral do Estado – João Ubaldo Ribeiro

O presidente da República, que encarna uma perigosíssima combinação de inteligência, esperteza e ignorância, ruim para ele e péssima para nós, disse outro dia que chegar à Presidência é “o ápice do ser humano”. E acrescentou: “Não tem nada além disso”. Por boa vontade, atribuo a afirmação à incultura e não à pobreza de espírito e valores de quem, aparentemente, se julga à altura, ou mais, de Péricles, Aristóteles, São Jerônimo, Galileu, Santo Inácio de Loiola, Isaac Newton, Churchill e muitos outros de tope semelhante. Só assim posso entender que ele ache que chegou ao ápice dessa categoria que, depois de sua dele inclusão, me parece, não sei por quê, um pouco deslustrada. Isso, porém, será, talvez, advindo de preconceito e erro de julgamento. Pode ser que realmente o presidente venha a entrar na História no pedestal de quem, como os pais da pátria americanos, concebeu e pôs em prática um novo Estado, diferente de qualquer outro jamais imaginado ou implantado.

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Pé no acelerador – João Ubaldo Ribeiro

Como creio que já escrevi aqui antes, acho que devemos encarar o entrante ano com otimismo e boa vontade. Claro, há certas sombras carregadas no presente e no futuro e a posse do presidente, por geral consenso, foi julgada chocha. Bem menos de dez por cento do público que compareceu da primeira vez deram as caras no domingo passado. E, segundo li nos jornais, tiveram que arrebanhar gente para encher o plenário e o auditório do Congresso. E, finalmente, a Natureza chorou, dando vazão a não sei que tipo de sentimento.

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— Tu tá bem, cara, tu tá muito bem. Há muito tempo que não te vejo assim tão bem e com a cara tão alto astral. Tudo isso é o Botafogo? Tem razão, é preciso valorizar as raras alegrias da torcida do teu time. O Botafogo…

— Qual é, cara, deixa o Botafogo pra lá, ainda mais tu, na tua condição de membro das Viúvas do Joelho do Obina, não tou pensando em futebol. Eu concordo com você que estou bem melhor, parei com aqueles grilos todos, agora vivo calmíssimo, quase zen. Não é só você, não, tá todo mundo notando. Lá em casa, aliás, o clima mudou completamente, está um verdadeiro paraíso. Você veja como é a vida. Tudo isso somente por uma questão filosófica. Depois dizem que a filosofia não tem importância na vida prática. Só tem, cara, tu tá vendo aqui o resultado, só tem!
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