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Archive for the ‘João Ubaldo – 2009’ Category

Deu no jornal que o presidente Evo Morales responsabilizou o frango pelo efeminamento de homens que, do contrário, seriam machos exemplares. Os bolivianos estariam cada vez mais soltando a franga, depois de comer frango. Não sei se o fenômeno já atinge proporções inquietantes por lá, mas não posso deixar de defender a galinha em mais este transe. Nós, defensores da galinha, ficamos irremediavelmente desfalcados de nosso grande representante Tom Jobim, que nos deixou pouco depois de fundarmos juntos a Liga Antidifamação da Galinha, concebida depois que ele pronunciou uma conferência inesquecível sobre o tema, à mesa de churrascaria em que nos reuníamos quase diariamente. Com a falta que ele faz, a responsabilidade dos correligionários aumenta e cabe reconhecer que, de fato, os frangos de granja são tratados com hormônios, o que certamente causa maus efeitos em quem consome sua carne. Mas esquecem que primeiro causam maus efeitos nos próprios frangos, os quais, além de serem afrescalhados à força, sem direito a reclamar, não podem nem ter o gostinho de descontar em quem os come.

A galinha, para começar, tem em comum com outros animais úteis o fato de que seu nome constitui xingamento ou depreciação. É assim com vaca, peru, pato, burro e vários outros, ao contrário de tigre, leão, lobo ou o genérico “fera”. O peru, por exemplo, deve sofrer muito psiquicamente, porque enfrenta um grave problema de identidade, mesmo se excluídas as associações a esta altura já feitas pelos maliciosos. Em português, ele é conhecido como peru, porque se achava que se originava do Peru. Já no Peru, ele é chamado de “pavo”, reservando-se para o pavão a designação de “pavo real”. Ou seja, duvida-se até mesmo de que ele seja real e certamente o afligem indagações sobre se sua vida não será apenas uma alucinação. Na Alemanha, ele era antigamente chamado de “kalikutischer Hahn” ou seja “galinha de Calicute”, afronta dupla, porque ele nem é galinha nem é de Calicute, que, por seu turno, ninguém sabe direito onde fica. Hoje os alemães o chamam de “Puten”, o que não melhora muito as coisas. Na Inglaterra e nos Estados Unidos, ele é denominado “turkey”, porque, apesar de nativo da América do Norte, foi por ela rejeitado, pois se acreditava que vinha da Turquia. Na França, ele é “dindon”, de “coq d”Inde”, ou seja “galo da Índia”. E por aí vai, entendendo-se perfeitamente por que o peru tem aquele ar desnorteado. Por muito menos, qualquer um de nós também teria.

Quanto à galinha sempre foi das mais atingidas, até em comentários como o de que determinada senhora ou senhorinha não pode tomar banho quente, senão vira canja. Ou seja, um animal sem o qual a sobrevivência da Humanidade estaria ameaçada é tratado dessa forma desairosa. Até mesmo sua condição animal vem sendo negada e, pelo menos em alguns círculos importantes, ela já não é tratada dessa forma, como, aliás, anunciou o Tom, num dos debates da churrascaria.

– A galinha não é mais bicho – disse ele, brandindo uma revista. – Os americanos redefiniram a galinha, está aqui num documento do Departamento de Agricultura deles. A galinha agora se define como um sistema destinado à conversão de proteína vegetal em proteína animal. Pronto, nem direito a cobertura da Sociedade Protetora dos Animais ela tem mais, acho que foi o golpe mais terrível que ela já recebeu. Cassaram tudo, não vão chamar mais o veterinário, para quando elas ficarem doentes, vão chamar o mecânico, conserte essa galinha aqui, deve ser o condensador, já imaginaram a humilhação? Acho que devemos pensar em instituir e apoiar a Resistência Galinácea, o mundo sem a galinha vai perder muito e, sem o canto do galo, é possível que não amanheça mais em lugar nenhum, isso é um perigo. Pode ser uma boa a gente ir criando umas galinhas no quintal, para depois soltar na floresta da Tijuca, para elas viverem na clandestinidade, a salvo da CIA. Dentro de algumas gerações, teremos a galinha silvestre carioca, a galinha é nossa e ninguém tasca, ninguém chamará nossas galinhas de sistemas conversores de proteínas.

A novidade não devia surpreender, acrescentou ele, pois as galinhas já são verdadeiros zombies, nas granjas. Nas gaiolinhas em que elas são confinadas, juntinhas umas das outras e separadas apenas por uma tela, não há espaço para muito movimento, de maneira que elas ficam neuróticas e começam a bicar-se, tentando comer-se vivas. Para evitar que façam isso, cortam-se as pontas de seus bicos com um aramezinho incandescente. Também se cortam unhas e esporões pelo mesmo motivo, de maneira que de fato elas cada vez se assemelham mais a máquinas.

E ainda houve o caso triste das galinhas do Arizona, se bem recordo qual o Estado americano envolvido. Mais ou menos um terço do que as galinhas jovens ingerem se transforma em penas, o que configura grave prejuízo para os criadores. Aí pesquisaram bastante e desenvolveram no Arizona uma galinha sem penas, somente com umazinha aqui ou acolá, para lembrar que se tratava de uma galinha. Mas, coitada, ela acabava morrendo de frio no inverno e, como os custos de aquecimento eram superiores aos da ração transformada em penas, desistiram dela, ainda mais que os consumidores ficaram com nojo daquela pele de galinha lisa e afirmaram que tinham a sensação de estarem comendo um lagarto.

– Diante de tudo isso – concluiu um dos participantes da mesa -, acho que devemos erguer um monumento à galinha desconhecida.

– Meu voto é a favor, bela ideia – disse Tom. – Vai fazer muita gente se sentir homenageada.

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Às vezes eu acho que nós, brasileiros, temos razão em manter nosso tradicional complexo de inferioridade, achando que tudo do famoso Primeiro Mundo é melhor do que aqui, a começar pela aparência e a terminar pela língua. É quando constato que somos atrasados mesmo, triste verdade. Somente um povo atrasado é que ia dedicar, como dedicou, espaço e tempo a comentar indignadamente e rechaçar com veemência uma piada que o ator Robin Williams fez num programa de tevê americano. Deve ser o único lugar do mundo onde isso acontece em relação a algo dito por Robin Williams, que os próprios americanos nem ouviram dá uma vergonhazinha.

Lembro agora, a propósito, o que aconteceu, faz algum tempo, quando o então correspondente do New York Times no Brasil escreveu sobre a relação do presidente Lula com as bebidas alcoólicas. O presidente quis expulsar do País o sacrílego jornalista e também lembro que o ministro Gushiken, aquele com cara de Fu-Man-Chu que na época nos assombrava, justificou tal reação dizendo que a matéria contendo o crime de lesa-majestade era equivalente a, em se estando no Japão, difamar o imperador. Em comparação, conta-se que, quando o presidente Kennedy se julgou ofendido pelo mesmo New York Times, apenas murmurou um palavrão e cancelou sua assinatura.

Agora, notadamente aqui pela América do Sul, cria-se novamente um clima anti-imprensa, a começar pelo nosso presidente, que se esquece do muito que deve a uma imprensa livre e agora a considera incômoda e quer ditar seu comportamento. Como não lê nada, a realidade lhe é narrada pelos puxa-sacos que o rondam, como rondam qualquer governante, e que não querem ser portadores de novas desagradáveis. A imprensa, assim, só pode refletir uma realidade que ele desconhece. Liberdade de imprensa, sim, contanto que a favor do poder. Tudo atraso, aqui neste triste continente agora ostentando cá e lá o que poderia ser uma caricatura, mas é retrato. Populismo barato, gritos de muerte a isso e muerte àquilo, viva la revolución aqui e viva la revolución ali, peitos ataviados com medalhas do tamanho de bolachões, provavelmente ganhas pela promoção ou repressão de alguma arruaça de meia pataca.

Mais atrasado que isso – e, ai de nós, não de todo incogitável num futuro tenebroso – só na Etiópia do tempo de Haile Selassie, quando qualquer coisa a ser impressa, até mesmo convites de casamento, tinha de passar pela censura oficial. Não duvido nada, mas nada mesmo, que alguém queira adotar práticas semelhantes para o Brasil de hoje e daqui a pouco proponham a padronização dos convites de casamento, para os quais sugiro logo a proibição dos dizeres “os noivos receberão os cumprimentos na igreja” para os casais cujo pai da noiva ganhe mais de vinte salários mínimos, pois nessa faixa será obrigatória a realização de uma recepção a convidados, com uma quota de trinta por cento para negros, vinte por cento para pardos e quinze por cento para moradores de comunidades carentes.

Não esqueçamos a tentativa que se fez em Brasília de regulamentar a maneira pela qual deveríamos falar, o politicamente correto da nossa linguagem de todo dia. Na ocasião, seus elaboradores e proponentes alegaram que a cartilha não era normativa, mas apenas sugestão, como se, no mar da macaquice e da indigência mental de tantos de nós, todo mundo em breve não fosse falar e escrever conforme ela. E daí a pouco, os comunicadores e porta-vozes estariam falando como o presidente do Lions Club de Wichita na presença dos leões e suas domadoras.

Age-se aqui como se as liberdades de pensamento, expressão e imprensa, que não podem ser dissociadas, como se uma fizesse sentido sem as outras, fossem uma outorga do Estado, ou, pior ainda, do governo. É comum entre nós a mentalidade de que o governo ou o Estado nos dá isso ou aquilo. Nem um nem outro nos dão nada, não somente porque pagamos os impostos que os sustentam, mas principalmente porque legitimamos o poder que é exercido sobre nós. Essas liberdades não são um dom do Estado ou do governo, são parte da dignidade e dos direitos básico do cidadão e da sociedade.

E não podemos, como também fazemos habitualmente, confundir Estado com governo. O funcionário público não é servidor do governo, mas do Estado. A tevê pública, ou o que lá seja isso no Brasil, não é do governo, mas do Estado. Contudo, não só encaramos como do governo tudo o que é estatal, como o governo de fato mete o bedelho a seu bel-prazer, em áreas que deviam ser escrupulosa e rigorosamente defendidas, como as próprias tevês públicas, onde nunca é aconselhável falar mal do governo e o mesmo governo nomeia e demite como lhe apraz.

Agora mesmo acaba de se encerrar uma tal Conferência Nacional de Comunicação, onde, segundo me contam, houve um festival de asnices e intenções duvidosas dignas da ala de extrema esquerda de um grêmio infanto-juvenil norte-coreano. Tentaram de novo criar um Conselho Federal de Jornalismo, para dar palpite na imprensa e, provavelmente, involuir para o ponto em que eu receberia uma lista de assuntos que deveria abordar neste espaço, bem como a opinião a ser adotada. Também propuseram a volta da exigência de diploma em comunicação para o exercício da profissão de jornalista. Isso não é pela liberdade de imprensa, porque qualquer cidadão deve ter o direito de publicar um jornal em que defenda legitimamente suas opiniões, sem precisar recorrer a um diplomado, que, em certos casos, só fará emprestar, ou vender, sua assinatura. Enfim, quanto mais as coisas mudam, mais permanecem as mesmas. Com uma exceção: sem imprensa livre, elas piorariam bastante.

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Aqui na ilha, verdade seja dita, o Natal nunca foi dos mais famosos. Há até quem sustente que Papai Noel não aparece por cá porque não confia no ferrobote (no original, ferryboat, mas o pessoal acha que o nome é por causa do ferro que ela dá na gente, logo o correto é isso mesmo), ou se recusa a pagar um absurdo para atravessar a baía apenas com um trenó velho e alguns animais aveadados. Contam-me também, não sei se é fato, que a tentativa de promover um Natal de amigo oculto não deu certo, até porque a maior parte entendeu mal a brincadeira e se escondeu o Natal inteiro, sem dar nem receber presente, tendo no fim achado a ideia tão besta que ninguém quis mais nem discutir a realização de outra festa de amigo oculto.

Este ano, porém, a coisa promete. Mostrando, mais uma vez, como nosso mundo é cheio de surpresas, a novidade natalina saiu de onde menos se esperava. Pasmem, mas quem está promovendo o novo Natal na ilha é Zecamunista, é o que estou lhes dizendo. Será que se confirmam os rumores de que, materialista empedernido, ateu impenitente, herege militante, ele é visto com frequência, antes do nascer do sol, encostado na porta da igreja de São Lourenço e argumentando com o santo em gestos veementes, talvez pedindo perdão pelos seus muitos pecados? Será que também se confirmam outros rumores, segundo os quais é dele o braço munificente que custeia as ricas novenas de Santo Antônio de uma certa viúva? Será mesmo, enfim, que ele se benze furtivamente, quando passa pela frente da Matriz?

Creio que nada disso vem ao caso, não vamos expor a intimidade de ninguém, ainda mais quando isso pode ser alvo de exploração política. O que vem ao caso é que todos têm comentado a grande movimentação que passou a ser notada na casa dele, desde fins de novembro. De início, pensou-se que ele estava promovendo mais um torneio de pôquer, depois que, numa sucessão estonteante de blefes amparados por suas grandes habilidades, raspou as fichas de seus contendores de Feira de Santana, mas deu o dinheiro quase todo para sua Fundação para a Defesa da Mulher-Dama Desamparada, podendo ser que agora estivesse precisando de algum apoio financeiro.

– De apoio financeiro eu estou precisando mesmo – me disse ele, quando o procurei para esclarecer os boatos. – Mas apoio de algum burguês endinheirado, não de um mero intelectual a serviço dos altos e baixos interesses de Wall Street, como você.

– Eu, a serviço de Wall Street?

– É uma avaliação genérica, tenha calma, não é caso de paredão, não é caso nem de uma temporada de trabalhos forçados na Sibéria. Tudo no Brasil está a serviço de Wall Street e da alta burguesia, a começar pelo governo. Você se lembra do que diziam do ditador Getúlio Vargas?

– Em que sentido?

– No sentido que interessa. O que diziam era que ele era o pai dos pobres e a mãe dos ricos. Agora o presidente é outro, mas é o mesmo, pai dos pobres, mãe dos ricos.

– Bem, de certa forma…

– De certa forma, não. De todas as formas, cada dia mais! Tudo a serviço da burguesia internacional!

– Nesse caso, por que você me disse que queria o apoio um burguês?

– Ah, é diferente. É porque eu estou organizando um Natal especial aqui na ilha, um patrocínio ajudaria nas despesas.

– Natal? Você, organizando um Natal?

– Um Natal do proletariado, um Natal da consciência de classe, um Natal sem esse embuste de Papai Noel. Ou, por outra, desmistificando esse Papai Noel americanalhado. O nosso vai sair numa carroça puxada por oito jegues e com um chapéu na mão, para, em vez de dar presentes, recolher as esmolas com que os plutocratas e corruptos querem comprar a consciência do povo. Esse pessoal que está aqui em casa está ensaiando para o cortejo que eu pretendo organizar.

– Pelo que eu estou vendo, a coisa vai ser boa, com essas moças daí.

– Não vulgarize minhas intenções! Não me venha com suas inferências vulgares! Essas são minhas colaboradoras num objetivo sociopolítico, elas vão me ajudar no projeto de socialização de nossas riquezas.

– Zeca, você me desculpe, mas agora eu sou obrigado a achar que essa é uma ideia desmiolada. Que riquezas são essas? Quer dizer, ar puro, paisagens bonitas e assim por diante, que é mesmo o que nós temos, já estão socializados, todo mundo pode desfrutar à vontade.

– Você se esquece de nossa principal riqueza. É mais um exemplo de alienação e baixa autoestima. A nossa principal riqueza somos nós mesmos.

– Está certo, mas você vai socializar a nós mesmos? Não entendi.

– Você vai entender e vai querer também se socializar. Socializar, no nosso caso, significa estarmos à disposição de qualquer pessoa que pretenda usar nossos préstimos de forma legítima.

– Você quer dizer trabalhar de graça?

– Isso não, nada de alienar nossa mais-valia. Isto aqui é uma terra de lazer, eu me refiro à socialização do lazer. Por exemplo, meu lazer está aberto ao lazer de qualquer conterrânea que queira desfrutar de mim de graça.

– Ah, já vi tudo. E você acha mesmo que as mulheres vão topar?

– Eu sou pela igualdade dos sexos, são as mulheres na vanguarda do socialismo científico. E, além do mais, foi ideia delas. Você vai ver que noite.

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Não posso considerar-me devoto dela, mas, antes de mais nada, desejo homenagear a santa de hoje, a piedosíssima Santa Luzia. É a protetora dos deficientes visuais e, pelo Brasil afora, muitas cidades e paróquias estão fazendo festa para ela. Todo ano, em Salvador, formam-se filas diante da fonte dela, porque lavar os olhos em sua água é perspectiva certa de cura. Em Itaparica, o Mercado Municipal, não por acaso, tem seu nome. Perde-se a conta dos milagres e graças atribuídos a ela na ilha, dentre os quais seleciono apenas um exemplo, somente para vocês terem uma ideia que talvez os convença a procurar sem demora seus santos padroeiros, até porque o que vou narrar abaixo envolveu a ação simultânea de dois santos.

Deu-se que Chiquinho de Enedina, depois de anos como sineiro, começou a não escutar mais quase nada, além de padecer de uma cruel zuzuia, onomatopeia que descreve com felicidade uma zumbideira no zuvido. Zuzuia essa que só passou quando ele se pegou com o santo padroeiro dos surdos, por acaso xará dele, o grande São Francisco de Sales. Quanto tempo o santo levou para tomar uma providência, não se sabe. O que se sabe é que foi mais ou menos na época em que Jacob Preto lavou os olhos com água da fonte de Santa Luzia todo dia durante três meses, ao final dos quais a santa apareceu a ele num sonho.

–– Seu Jacob, me compreenda uma coisa – disse a santa –, eu dei grande valor às suas rezas e suas lavagens de olhos na água da minha fonte, de maneira que, de hoje, em diante, o senhor vai ter a melhor vista do mundo, ou não me chamo Luzia.

Dito e feito, porque, alguns dias depois, os dois conterrâneos estavam à beira do cais, apreciando o nascer do sol, quando Jacob apertou os olhos e mirou na direção das torres da igreja do Bonfim, em Salvador, do outro lado da baía de Todos os Santos.

–– Iéguas! – exclamou ele, usando a interjeição mais comum na ilha. –– Iéguas! Quando Santa Luzia fala, pode escrever! Você acredita que daqui eu estou vendo os pombos na torre da igreja? Estou vendo como se fosse aqui, tem um pretinho ali do lado esquerdo, dois cinzentinhos…

–– Bom, ver eu não estou vendo, não, que meu santo é outro – disse Chiquinho. Mas estou ouvindo as pisadinhas deles.

Pois é. Concedo que, no caso, talvez a ação dos santos, já por si mesma poderosa, se robusteça ainda mais com a afamada radioatividade que envolve toda a ilha, nunca se sabe. Lamentavelmente, não posso pedir a ajuda deles, pois suas especialidades não se endereçam a minhas necessidades e não estou mais na ilha. Estou, na verdade, me preparando para, depois de intensa preparação psicológica, durante a qual muitas vezes temi o fracasso, voltar a caminhar no calçadão – é o que estou lhes dizendo, em absoluta primeira mão.

Cumprimento-me por ter persistido em calçar os tênis sozinho. Estive à beira de pedir ajuda e houve um momento em que achei que somente os bombeiros resolveriam o problema, mas terminei por vencer e eis-me agora pronto para o grande reingresso. Mas nem chego perto da rua. Antes de sair, já dá para perceber que o tempo não está colaborando e chove aos potes. O jeito é esperar, talvez ir para a beira do terraço, para pelo menos assistir ao oscilar satisfeito das plantas debaixo da chuva.

Quem vejo lá no canto, impassível e como sempre fazendo pose em cima da cerca? Isso mesmo, Herculano, o gavião que andava sumido havia meses e que já fora dado como finado pelos mais pessimistas. Parecendo que ficou ainda maior do que já era, talvez estivesse voltando de uma excursão recreativa ou tivesse viajado para constituir família. Também como sempre, ignora minha presença, a não ser que eu chegue excessivamente perto. Se eu faço isso, ele me olha como quem diz que só não me dá uma unhada no meio da testa porque está sem saco, abre as asas e decola com desdém.

O regresso dele deve ser um bom sinal. Entre os muitos livros loucos que já li nesta vida airada, estavam alguns que falavam nos augúrios da antiguidade. Mas só me lembro, não sei por quê, dos augúrios com corujas e mochos, nada com gaviões ou águias. Decido então que a presença de Herculano é um bom presságio, tudo de bom acontecerá na minha nova temporada no calçadão. Cumprimento-o à distância, ele parece reconhecer minha saudação, embora não a retribua. É tudo auspicioso, sim, até mesmo a chuva passou. Já em passo acelerado e decidido, tomo o rumo da orla.

Não posso reclamar, quando, ainda antes de chegar à primeira esquina, vem na direção oposta à minha uma senhora que conheço de vista aqui mesmo na rua e estaca, fazendo sinal para que eu também pare. Como ainda não estou oficialmente em caminhada, as normas permitem a interrupção. Ela me dava parabéns, era o primeiro dia da volta, não? E o capenguinha, eu estava pronto para o capenguinha?

O capenguinha, como pude esquecer dele? Meio sem graça, despedi-me dela, andei devagar e pensativo até o calçadão. Já do outro lado da rua, examinei os caminhantes, não havia sinal dele. Sem querer cair na armadilha da pressa e da precipitação, olhei de novo. Não, capenguinha nenhum – e, aliviado, comecei a andar. Mas que é isso que pressinto aqui atrás de mim, esses passinhos, que serão? Não tive tempo de pensar muito e – zupt! – eis que me passa ele, saído de não sei onde, a perninha curta em rápido movimento de compasso apoiado na perna mais comprida e aqui estou eu comendo poeira outra vez. Acho que vou deixar a caminhada para as resoluções de ano novo.

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Aqui na ilha, o problema da corrupção nunca foi muito grave. Os maledicentes, despeitados e invejosos, que não engolem a verdade patente de que Itaparica é a rainha do Recôncavo Baiano, tentam tirar-lhe mais esse galardão, alegando que nunca furtaram dinheiro público aqui porque aqui nunca houve dinheiro público para furtar e muito menos privado. Esquecem-se eles até mesmo dos inúmeros períodos faustosos de nossa história, dos quais o mais recente talvez tenha sido o dos petroleiros, no tempo em que produzíamos petróleo. Os petroleiros eram ricos milionários e me lembro de Zenóbio Merdinha (assim alcunhado por causa de um episódio de infância, que melhor estaria se olvidado, até porque Zenóbio sempre foi um cidadão exemplar) mandando botar luz fluorescente na casa toda, inclusive na fachada, a ponto de ter sido veiculada a notícia de que a Marinha ia usá-la como farol. E muitas mais dessas fases esplendorosas eu poderia enumerar, se não corresse o risco de abusar do leitor.

Bem verdade que terra nenhuma, nem mesmo Itaparica, é perfeita, de forma que, embora envoltos nas névoas falazes do passado, contam-se lá e cá alguns episódios dos quais somente os mais antigos se recordam. No tempo em que meu avô ainda era coronel atuante e organizava impecavelmente as eleições, a ponto de só sairem votos para os candidatos dele, numa perfeição de planejamento, houve boataria em torno do finado Nonato Pururuca. Segundo se comentou, ele teria se envolvido num caso de estelionato, mas me garantiu Ary de Maninha que foi tudo um deplorável mal-entendido. Nonato era casado com Stela da Bica, matrimônio felicíssimo, mas de vez em quando sujeito a brigas que todos comentavam, inclusive certos ignorantes do Mercado. Assim, não houve um caso de estelionato – atenção, para que não se continue a encampar uma calúnia –, mas um caso entre Stela e Nonato, o que é muito diferente e dar umas paneladas no marido, de vez em quando, faz parte. Esse pessoal ouve o galo cantar sem saber onde e aí sai espalhando aleivosias contra quem já não está em condição de defender-se.

Atualmente, não se pode afirmar que nos encontramos numa dessas fases áureas. Os efeitos da crise foram sentidos e, apesar de Jacob Branco, em análise econômica feita num inspirado discurso pronunciado no Largo da Quitanda, ter asseverado que, se, no resto do mundo, a crise fora uma bufa medonha, na ilha havia sido um punzinho social, desses que se esgueiram para o ar livre sem que os demais presentes notem. Mesmo assim, ponderou Jacob, até as vendas de jornal caíram sensivelmente, despencando de onze exemplares para três por dia. Isso, porém, não teve repercussão alguma nos nossos níveis de corrupção, que permanecem próximos do zero.

Mas é claro que não existe unanimidade quanto a nada nesta vida, o que pude mais uma vez constatar no bar de Espanha, onde Zecamunista terminava uma palestra sobre como o presidente Zelaya tinha realizado o sonho da casa própria às nossas custas.

– Vocês sabem o que quer dizer Honduras, onde o Brasil é superpotência? A palavra honduras, em espanhol, vocês sabem o que significa? – concluiu ele dramaticamente, com um murro no balcão que fez Espanha segurar as garrafas. – Significa funduras! É isso mesmo, funduras! Só quem fala em Honduras somos nós, ninguém mais sabe onde é! Boa imagem, o Brasil nas funduras!

– Que é isso, Zeca, também não é assim.

– Não. É pior. Você viu na televisão os caras em Brasília metendo a mão em dinheiro de suborno?

– Vi. Pegaram os caras direitinho.

– Pegaram os trouxas como você. E no fim vão prender o balconista que vendeu a um deles a cueca de levar dinheiro. Chega de enganar o proletariado, todo mundo sabe que não vão prender nenhum desses criminosos! Aliás, minto. Criminosos, não, supostos criminosos, alegadamente criminosos, suspeitos. Senão, quem acaba preso sou eu, eles roubam e ainda prendem quem reclamar.

– Não, Zeca, desta vez eu acho que eles realmente não têm para onde correr.

– Oropa, França e Bahia, tudo isso é lugar para onde eles podem correr, com a grana que já enfiaram no subilatório. Eles já devem ter dinheiro suficiente para comprar as funduras, não compram porque não iam achar a quem revender.

– Mas não há como negar o que aparece claramente nos vídeos, é tudo muito claro.

– Para nós dois. Para todo mundo, aliás, menos eles lá, que são o que interessa. E mais tarde eles podem até provar que só malocaram o dinheiro nas cuecas e nas meias com medo de assaltos, porque era tudo para instituições de caridade.

– Pensando bem, lá isso é. Tem até um vídeo que mostra três ou quatro deles fazendo uma oração de agradecimento a Deus.

– É, mas nisso eles vão se dar mal. Deus é difícil de enganar, finge que foi enrolado e no fim mostra quem é mesmo que sabe das coisas no pedaço.

– Que é isso, Zeca, estou estranhando você. Deus? E o materialismo, você não é marxista-leninista, materialista?

– Sou materialista científico, sim, com muito orgulho, mas não sou fanático. Ter certeza de que existe inferno é muito consolador.

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Sempre achei chique acordar tarde. Vai ver que, quando eu era menino, me convenci de que acordar tarde era coisa para príncipes e princesas, ou então para artistas de Hollywood, os quais, por sinal, saíam da cama já de roupão, barbeados, penteados e provocando gritinhos e outras manifestações quase indecorosas, por parte das senhorinhas daquele tempo. Uma das primeiras iniciativas que tomei, depois que casei e saí da casa dos pais, foi daí em diante acordar tarde como muitos amigos meus do famoso Sul do País, ou seja Rio de Janeiro para baixo. Não deu certo.

Tenho uma comadre muito inteligente, que diz que tudo é trauma de infância. Deve ser verdade e, porque meu pai considerava qualquer pessoa que acordasse depois da cinco um sibarita à beira da perversão e ficava fazendo barulho pela casa toda, até que todo mundo acordasse. Uma vez, escandalizado e alarmado porque eram dez horas da manhã e eu não tinha despertado ainda, ele pegou um regador e molhou minha cara, como se eu fosse um pé de alface (dispenso gracinhas quanto a esta última observação).

— Degenerado! — bradou ele, enquanto eu sacudia a cabeça como um cachorro molhado. — Dissoluto!

Hoje mantenho o único regador da casa a distância do quarto. Não creio que seja tão degenerado assim e muito menos dissoluto, mas não se deve facilitar com essas coisas. E trauma de infância é trauma de infância, razão por que, quando em Itaparica, costumo estar no mercado antes de o sol nascer, na companhia dos pescadores, dos peixeiros e, embora só ocasionalmente, dos fantasmas de meu pai e meu avô.

Agora distante deles e da ilha a maior parte do tempo, continuo suspeitando de degenerescência insidiosa entrando pelos ossos, sempre que saio da cama depois do horário prescrito pelos hábitos lá de casa. E assim, receio que não tão lépido quanto aos vint’anos, mas ainda dando para o gasto, eis-me caminhando na direção da banca de Salvatore, que outro dia andou espalhando pelo bairro que eu nunca mais apareci, desconfiava ele que por traição à velha freguesia e à não menos velha camaradagem.

Tranquilizei-o quanto a isso, comentamos com algum ceticismo a atual conjuntura, despedimo-nos efusivamente e eu me dirigi a parada seguinte, a da padaria. Sempre achei bonita a imagem do pai de família levando o pão recém-saído do forno para dentro de casa — o sagrado receio do lar, no ver de alguns. Pego o pão, começo a marcha de volta, mas o dia está bonito demais para ter seu começo desperdiçado. Sigo para apreciar o restinho de madrugada em frente ao mar, rever talvez algum velho companheiro de calçadão. Meu jamais esquecido capenguinha, estará ele por lá, cumprindo sua missão vingadora e humilhando alguma outra vítima de sua alta velocidade?

Olho em torno, não o vejo. Não é impossível que se apresente ainda mais façanhudo que antes, pode ser que esteja recalcado por o terem rejeitado como competição desigual, ou algo assim, nos Jogos Paraolímpicos. Mas desta vez não está à vista. Aspiro o ar marinho, contemplo o céu azul e me preparo para finalmente voltar, quando vem de lá quem senão meu amigo Agostinho? No vigoroso verdor de seus sessentinha, sessentinha e pouco, musculatura de 59 com certeza, já está acabando sua corrida diária. Lindo dia, tudo bem, batimentos numa boa, tudo bem, nenhuma novidade, graças a Deus.

— Aliás, minto — disse Agostinho. — Tem novidade, sim. O Lupércio já está recuperado, mas o médico da emergência disse que ele hoje podia estar numa situação igual à de um ovo cozido. De ovo cozido não sai pinto e dele também não ia mais sair. Não ia sair mais nada, aliás, ele estaria na mesmíssima situação que o ovo cozido, mortinho.

— Não entendi nada, Agostinho, eu nem sabia que o Lupércio tinha passado mal.

— Ah, eu pensei que você sabia, todo mundo lá sabia. Ele perdeu os isqueiros todos da casa dele e aí partiu para acender o cigarro no micro-ondas.

— Mas não pode, tem uma trava de segurança, não funciona aberto.

— Você já tentou dissuadir o Lupércio de alguma coisa, quando ele já está com umas duas no juízo? E ele é sergipano, eu aprendi com ele que o sergipano é assim. Quando mete uma coisa na cabeça, não tem santo que tire. O médico explicou que o micro-ondas não produz calor, o que ele faz é agitar as moléculas de água contidas no treco que está lá dentro e aí esse treco assa ou cozinha. Então pelo menos as bochechas do Lutércio iam ficar iguais a um pimentão recheado.

— Mas ele não chegou a enfiar a cara no microondas ligado, não, chegou? Claro que o médico tem razão, as bochechas dele iam ser cozidas vivas, eu fico arrepiado só em pensar.

— Não, ele chegou perto, mas aberto o forno não funciona mesmo. Isso eu sei e o Lupércio também sabe, mas ele aí encasquetou porque diz que detesta qualquer objeto recalcitrante e já esmigalhou um relógio caro porque um ponteiro não parava onde ele queria, e aí partiu para o forno com uma chave de fenda em riste. Sorte o filho dele estar lá para segurar.

— Mas que maluquice, só mesmo o Lupércio. É melhor até avisar ao pessoal daquela mesa dos botafoguenses que ele lidera, eles acham ótimo tudo o que o Lupércio faz.

— É negócio de botafoguense, botafoguense acredita até em lobisomem. Mas esse perigo eu já disse a eles que eles não correm, naquela mesa ninguém tem água no organismo.

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– Ô Batista! Batista! Ô Beethoven!

– O primeiro nome do Batista é Beethoven?

– Não, é porque Beethoven era surdo e o Batista é o único garçom do Rio de Janeiro que é surdo como uma porta. Ô Batista! Batiiiiista! Ô flagelo do Ceará! Batiiiiista! Ah, finalmente! Um chope de emergência, me dá prioridade aí, eu posso sucumbir!

– É, está com cara de emergência mesmo, você nem deu bom-dia, quando chegou. Foi você mesmo que fez uma palestra aqui, dizendo que não se deixa de dar bom-dia nem à sogra.

– É verdade, desculpe, tem razão. Eu fui criado no interior, meu pai foi quem me ensinou isso, desculpe, bom dia, bom dia.

– Mas você de fato está com cara de nervoso mesmo. Que foi que houve, a Neneca achou o amor da vida dela outra vez?

– Não, não, graças a Deus, não. Não, é mais genérico, é com minhas neuras. Sabe esse papo de primeiro mundo, vamos entrar para o primeiro mundo, não sei o quê é de primeiro mundo, essa conversa? Eu vou te confessar uma coisa, pra mim esse negócio de primeiro mundo não está com nada, eu não tenho resistência para encarar.

– Que é isso, cara, você mesmo foi quem disse que estava agradecidíssimo ao computador porque o namorado da Neneca emigrou para a Internet e nunca mais foi visto.

– É, mas isso foi no momento da euforia, tem que dar o desconto. Obrigado, Batista, viva o glorioso estado do Ceará. Tem que dar um desconto grande. Eu tenho saudade de um atrasozinho, a verdade é esta. Não é que eu seja saudosista, eu não sou contra o progresso, sou a favor do antibiótico, do stent e do biquíni, mas tinha que ser mais devagar. Todo dia tem uma novidade, cara. Agora mesmo, eu passei por outra assombração, foi por isso que eu cheguei aqui nervoso. Eu já tinha visto antes, mas não me acostumo, não me acostumo mesmo, para mim vai ser sempre uma assombração.

– Mas você nem celular tem.

– Eu sei. Nem terei jamais, eu me sinto de coleira!

– Mas ninguém te obriga a ter.

– É, mas todo mundo tem. Outro dia eu entrei na sala de espera da clínica, cheia de gente e todo mundo, absolutamente todo mundo, falando no celular, parecia uma central da Nasa. Não deu nem para dar esse bom-dia de que nós falamos quando eu cheguei. E até eu entrar ninguém desligou, inclusive um cara que se levantava para discutir com a ex-mulher sobre o filho deles. Até agora não esqueci o nome do menino. Aníbal, apelido Nibinha, deve ser por isso que ele é anormal. Mas é indecente, esse tipo de coisa, para mim é indecente. Só não sei se o Nibinha deu mesmo um chute na canela de d. Dete, avó dele por parte de mãe; entrei antes que o cara acabasse de desmentir.

– É, isso é meio chato. Outro dia eu sentei junto a uma senhora no banco e ela de vez em quando pedia para o cara do outro lado dar um tempinho, afastava o celular, chorava que nem uma bezerra, fungava, passava um lenço de papel nos olhos e voltava para falar com o Jorginho. Esse se chamava Jorginho, que, por sinal, a julgar pelo que ela disse, deve ser um pilantraço, o cara empenhou um colar que a mãe dela deu a ela e foi pego metendo a mãozona por baixo da blusa da irmã dela. E fiquei como você, sem saber do fim da história, mas acho que ela ia perdoar o Jorginho, tinha toda a pinta de mulher que gosta de cafajeste. Acho que, se desse para fazer isso pelo celular, o Jorginho ia dar umas duas bolachadas nela, tipo Nelson Rodrigues, ela era personagem dele.

– Daqui a pouco vai dar, não duvido nada. Vai dar até para transar pelo celular, vão inventar o PhokPhone, não duvido nada, com garantia de GPS para o ponto G e camisinha eletrônica, que também vão inventar. Aquele namorado da Neneca só transa agora lá onde ele mora, lá na Internet. Você sabe que eu já tentei ter celular, você sabe disso. Mesmo bem antes de observar vários casos lamentáveis de maridos tipo kennel club, tudo de coleira eletrônica, igualzinho a cachorro americano. Aqui mesmo, neste estabelecimento, você sabe o que eu estou dizendo, mas não vou fazer fofoca, cala-te boca. Mas não foi nem por isso que eu desisti logo, não é para mim de jeito nenhum.

– Eu lembro você dizendo que só não jogava o celular no canal porque não queria ser poluidor ambiental.

– Eu tive um trauma! Fiquei traumatizado, nunca tomei um susto daqueles. Bem verdade que eu fui muito imprudente, não tinha nada que meter aquele treco no bolso. Mas botei no bolso esquerdo da bermuda e ninguém me disse que aquela desgraça vibrava. E estou eu na minha, vindo a caminho daqui, na hora de sempre, quando aquele treco começa a fazer brrrr-brrrr, me atingindo num local muito delicado, tomei um susto pavoroso! Se eu fosse cachorro, estava ferrado, com reflexo condicionado de celular. Era tocar um celular e eu arriar bandeira no primeiro toque, sem perdão. Já não está muito bom, aí mesmo é que a aposentadoria ficaria completa. Mas agora não, agora eu cruzei com um cara falando sozinho e brigando com alguém invísível. Eu sei que é desses celulares com fone de ouvido e microfoninho, mas não é normal, para mim não é normal uma pessoa sair assim pela rua. No meu tempo, só maluco fazia isso e agora quem acha que ficou maluco sou eu, sério mesmo, já estou duvidando de minhas faculdades mentais. Batiiiiista!

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