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Archive for the ‘João Ubaldo – 2000’ Category

Viva a mulher nacional – João Ubaldo Ribeiro

Queridas companheiras,
Não sei se vocês sabiam que hoje é o Dia Nacional da Mulher. Se não sabiam, agora estão sabendo, parabéns. Apesar de homem nacional, não posso falar em nome de todos, talvez nem da maioria. Mas creio que, descontados os aspectos que pertencem somente à minha biografia individual, falo o que muitos falariam e, em primeiro lugar, desejo ressaltar que esta se trata de uma missiva de grande puxa-saquismo, embora desinteressado e merecido. Devo muito a muitas mulheres, como os homens costumam dever, e sou reconhecido, embora talvez não pareça. E, nesta época em que pensamos, embora atabalhoadamente, no nosso imenso Brasil, cabe uma palavra especial à mulher nacional, este patrimônio tão incompreendido e tão freqüentemente desvalorizado. (mais…)

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Viajar, viajar! – João Ubaldo Ribeiro

Deve ser a idade, tudo é a idade, mesmo quando se está nos verdes anos, o que, infelizmente, não é o meu caso. Acho que não vou viajar mais, embora não possa renunciar à Organização, já que não sei como entrar em contato com ela. Mas, segundo me informam alguns dos meus companheiros, se o sujeito começar a recusar viagens, é chutado da Organização, o que espero fervorosamente me venha a acontecer. Aliás, creio que minha meta final será nunca mais sair de casa em hipótese alguma, a não ser para o cemitério, jornada que, não obstante minha condição de imortal, serei forçado a fazer, mais cedo ou mais tarde, sem poder protestar. (mais…)

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A ovação de que foi alvo o ministro Serra não está sendo valorizada da forma que merecia. Não que eu seja favorável a que se jogue ovo em ninguém, nem creia que manifestações desse tipo mostrem o caminho para a solução dos problemas nacionais, mas, ao contrário do que dizem, acho, sim, que isso mostra, embora de forma torta, que estamos chegando a uma democracia e que, em lugar de pensar em reviver, com novo nome artístico, a Lei de Segurança Nacional (aliás, brandida rancorosamente – quem diria e por quem se diria – faz pouquíssimos dias), devíamos era comemorar discretamente o fato. Jogar ovos, tomates e tortas na cara de autoridades e pomposos variados é comportamento relativamente comum nas democracias mais consolidadas, com exceção da americana, onde o pessoal prefere dar tiro mesmo.

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Um dia como outro qualquer – João Ubaldo Ribeiro

Uma última repassada na rotina, antes de sair para o trabalho. Até então, tudo correra bem. Como já havia combinado com a mulher fazia tempo, rezaram juntos, na hora em que os filhos saíram para a escola. Providência elementar, em que já deviam ter pensado desde o primeiro assalto que o menino sofrera, dos seis que já contava em seu currículo — todos, felizmente, bobagens sem violências maiores, em que só levaram o dinheiro da mesada, os tênis, o blusão, o walkman e o relógio. Já a menina fora assaltada apenas uma vez, mas nunca é demais prevenir. Então a coisa era simples: pessoas de fé, agora tinham como norma rezar na hora em que os filhos saíam, para pedir proteção, e na hora em que voltavam, para agradecer. Funcionava, funcionava, Deus é grande. (mais…)

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Terei sobrevivido? – João Ubaldo Ribeiro

Alimento graves dúvidas sobre se estou vivo, neste domingo pós-carnavalesco. No momento, acho que estou, mas, logo mais à noite, poderei vir a sucumbir definitivamente, depois de comparecer a um camarote no sambódromo, para o qual não tenho preparo físico nenhum. Aliás, não tenho preparo físico para nada, como já comprovei cientificamente, na academia de ginástica que me foi recomendada pelo conselheiro Sérgio Cabral, hoje em tão boa forma que já está cogitando realizar seu velho sonho de participar do corpo de baile do Municipal. Trata-se de estabelecimento altamente sofisticado, no qual o padecente é submetido a uma minuciosa avaliação prévia. Coisa finíssima, atu-lhada de fios, computadores, monitores e aparelhos de tortura sortidos, os quais me foram aplicados durante duas ou três horas, talvez um pouco mais do que para a maioria dos outros clientes, porque o médico responsável, além de se preocupar em me prevenir repetidamente que era possível que eu não morresse durante os exames, parecia não acreditar no que via e, inconformado, conduzia todos os testes duas ou três vezes, para ter certeza de que não estava enganado ou que as aparelhos não estavam desregulados. (mais…)

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Somos nós mesmos – João Ubaldo Ribeiro

Já me queixei disto diversas vezes: é freqüente que o presidente da República fale no Brasil e no governo como se tivesse uma relação meio distante com aquele e pouco a ver com este. De quando em quando, ao ouvi-lo, fico com a impressão de que se trata de um político da oposição moderada, ou um analista social francês, discorrendo, com um misto de estupefação e desgosto, sobre um país exótico e algo desagradável. Muita gente partilha desta opinião e se irrita, como eu também. Que diabo, é com ele ou não é? Ele é premier da Suécia (aliás, justiça seja feita, acho, fora de toda brincadeira, que ele daria um dos melhores primeiros-ministros que a Suécia jamais teria tido) ou presidente do Brasil? (mais…)

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Saudades dos bons tempos – João Ubaldo Ribeiro

Vocês vejam o que é o marketing. Acabou finalmente o acalorado debate sobre o novo século, que tomou tanto espaço em nossa vibrante imprensa. Todo mundo agora concorda que o século novo começa mesmo daqui a menos de um mês e a verdade é que, pelo menos que eu veja, ninguém está ligando. O ano de 2000, esse impostor, contava com o marketing, sublinhado pelo número redondinho, e foi aquele auê todo. Agora que o século legítimo vai entrar em cena, ninguém, pelo menos que eu note, está dando importância. Mixuruca, quase cabisbaixo, sem nem uma nave como a de “Odisséia no Espaço”, ele dá continuidade às assombrações de sempre, em que somente a guerra nuclear foi substituída por outras ameaças que continuarão a ser anunciadas.
De minha parte, estou me incomodando muito pouco com o que o século vindouro trará, até porque desconfio de tudo, principalmente do progresso. Agora mesmo, o telefone, sem que ninguém chegasse perto dele, tocou e, quando o atendi, aquela voz de mulher gravada que nos enche universalmente o saco me solicitou que aguardasse na linha o atendimento e me expôs aqueles números que devem ser digitados, quando desejamos especificar que serviço solicitamos. Só que eu não tinha nem ligado o telefone, quanto mais solicitado serviços. Ou seja, ao que tudo indica, em 2001 não só vamos agüentar a voz, as mensagens e as musiquinhas, como também seremos obrigados a escolher serviços em que nunca pensamos. Não vai adiantar a gente dizer que não está interessada nem em comprar seguros nem em quem vai ganhar a eleição no Flamengo. Como a teletela de George Orwell, o telefone ficará permanentemente ligado em algum serviço (pago, claro) e, se quisermos telefonar para alguma pessoa real, teremos de ir a um orelhão ou agência dos Correios. Não achei um bom começo, estou um pouco assustado. (mais…)

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